Título: Chance para produtos brasileiros
Autor: Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 30/07/2009, Mundo, p. 22

A curto prazo, mau negócio para a Colômbia e bom para o Brasil. A longo prazo, um péssimo negócio para a Venezuela, que se mantém agrodependente. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, determinou ontem que se inicie a substituição das importações da Colômbia por produtos brasileiros. ¿Estas compras não são imprescindíveis para nós, podemos obtê-las em muitos países, como no Brasil¿, declarou.

¿O Brasil tem potencial ainda para aumentar sua exportação ¿ infelizmente para nós, que estamos no setor pecuário¿, contou ao Correio por telefone, Pedro Piñate, diretor do Centro de Estudos Pecuários em Maracay. Segundo ele, as principais mercadorias que chegam da Colômbia ¿ como carne, gado e alimentos em geral ¿, além de veículos, poderiam ser substituídos por produtos brasileiros.

Piñate revela que não há como aumentar a produção desses bens no próprio país. Segundo ele, ¿investiu-se muito dinheiro público em agricultura, mas as colheitas são invisíveis¿. Ele explica que o governo de Chávez se empenhou em projetos pouco produtivos e tem expropriado fazendas e propriedades privadas dedicadas à agricultura. ¿Não há segurança (jurídica) para novos investimentos. Então, a produção vai continuar diminuindo na Venezuela e vamos seguir dependendo das importações¿, resume.

Comércio

Nos últimos 10 anos, o Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC) já vinha registrando um aumento das exportações do Brasil para a Venezuela. Em 1999, o Brasil vendeu US$ 536 milhões. Em 2008, o valor foi quase 10 vezes maior: US$ 5,15 bilhões. O órgão atribui o aumento não só aos históricos confrontos entre Chávez e o presidente colombiano, Álvaro Uribe ¿ que engordou a fatia de mercado brasileiro ¿, mas também à política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que investiu na ampliação do comércio a mercados não tradicionais, como América Latina, África e países árabe, asiáticos e do Leste da Europa. Para se ter uma ideia, segundo dados do MDIC, o Brasil também registrou um forte aumento das exportações para a Colômbia: de US$ 402,9 milhões em 1999 para US$ 2,29 bilhões em 2008.

O número US$ 5,15 bilhões Valor acumulado das exportações do Brasil para a Venezuela, em 2008. Em 10 anos, o intercâmbio aumentou quase 10 vezes.

Análise da notícia A mão do ideólogo

Uma leitura cuidadosa da carta endereçada pelas Farc à oposição civil evidencia que o propósito da iniciativa é recolocar a guerrilha colombiana no leito do processo político real. Descontadas as desqualificações de ofício ao presidente Álvaro Uribe, o teor do comunicado é uma proposta de frente comum contra sua pretensão a disputar o terceiro mandato, em 2010.

Com um elemento novo: a continuidade de Uribe no poder é associada à instalação de bases militares americanas na Colômbia e ao inevitável acirramento do conflito armado que se arrasta há 45 anos. De olho na largada do processo sucessório, as Farc procuram delimitar a disputa em dois campos: os uribistas, ¿guerreiristas¿ e submissos aos EUA, contra os ¿pacifistas¿, que rejeitam o acordo militar fechado com Washington.

No conteúdo, como na forma, o longo texto leva a assinatura do novo comandante máximo da guerrilha, Alfonso Cano, arqueólogo da Universidade Nacional e coetâneo de Uribe. Referências acadêmicas ao ¿sofismo¿, por exemplo, dificilmente ocorreriam ao falecido fundador das Farc, Manuel Marulanda. Assim como só poderia ser Cano a provocar Uribe no terreno intelectual, chamando-o de ¿sociólogo¿, entre aspas.

Sobretudo, para quem acompanha o desenrolar do conflito colombiano, o texto confirma que está no comando das Farc o ideólogo por excelência, empenhado em romper a solidão das montanhas. (SQ)

Trechos

A partir da chegada de Álvaro Uribe Vélez ao governo, surgiu na Colômbia uma nova direita, neoliberal e antidemocrática, que pretende perpetuar-se no poder (...) A presença dessa nova direita intolerante e mafiosa mudou o mapa político do país e ameaça o futuro democrático da nação.

O projeto de Novo Estado de Uribe pretende (...) outorgar ao presidente um novo poder: o de se autoeleger. Já se reelegeu uma vez, com métodos ilegítimos, e o que pretende agora é poder fazê-lo sempre.

Chamamos todos os patriotas e democratas da Colômbia a impedir o estabelecimento perpétuo de uma ditadura ou um governo totalitário e despótico. Convidamos a trabalharmos por um Grande Acordo Nacional de Paz, a construir uma alternativa política que privilegie a paz, convoque ao diálogo, instrumentalize uma trégua bilateral e proceda a suspender de imediato a presença de tropas americanas em nosso território. Que, uma vez alcançados os acordos, com protagonismo das organizações sociais e políticas, se convoque uma Assembleia Nacional Constituinte.