Título: Momento histórico para Brasil e EUA
Autor: Sobel, Clifford; Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 30/07/2009, Mundo, p. 23

Embaixador americano prevê aproximação entre os países e destaca ¿parceria natural¿

As últimas semanas do embaixador dos Estados Unidos, Clifford Sobel, no posto em Brasília têm sido bastante concorridas. Às vésperas de deixar a representação no Brasil, país pelo qual se declara apaixonado, ele tenta dividir o tempo entre os encontros de despedida ¿ um deles foi com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na última segunda-feira ¿, a mudança ¿ sua sala já está lotada de caixas com seus pertences ¿ e a ainda movimentada agenda de representante da diplomacia americana. Entre os compromissos que exigem sua atenção na reta final, estão as visitas do general James Jones, assessor de segurança nacional de Barack Obama, e de Fred Hochberg, presidente do Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos (Ex-Im Bank). Hochberg virá negociar créditos a empresas americanas que desejam trabalhar com a exploração de petróleo brasileiro.

Em meio a esse turbilhão, Sobel recebeu o Correio e fez um balanço das relações bilaterais nos últimos três anos, período em que esteve à frente da embaixada. ¿Nós tiramos as barreiras entre os EUA e o Brasil. E temos mantido uma relação muito próxima¿, disse. Empresário do ramo de telefonia e internet, Sobel manteve o enfoque da atuação no comércio bilateral, que cresceu 35% entre 2006, quando assumiu o cargo, e 2008. Ofereceu grande apoio às companhias americanas no Brasil e esteve em contato com executivos brasileiros. No meio político, fez amigos importantes, como o ministro da Defesa, Nelson Jobim, de quem nunca deixou passar despercebidas as qualidades do caça Super Hornet da Boeing, oferecido na concorrência F-X2 da Força Aérea Brasileira.

Quanto aos planos, o embaixador prefere a discrição. Após deixar o posto, em agosto, pretende voltar aos EUA por um tempo, mas com um retorno garantido ao Brasil para ¿ficar próximo dos amigos¿ que fez aqui. Diante da especulação de que abrirá uma consultoria em São Paulo, despista: ¿Considero o Brasil um grande país para se investir, mas vamos ver o que o futuro nos reserva¿.

Momento histórico para Brasil e EUA Zuleika de Souza/CB/D.A Press

Este, de fato, é um momento histórico. Estamos em um ponto de construir relações ainda mais próximas, e isso será conduzido pelos próprios presidentes Lula e Obama¿

Foram três anos representando os EUA no Brasil. Nesse período, como evoluíram as relações entre os dois países? O foco dessa aproximação pode remontar a março de 2007, quando os presidentes Lula e George W. Bush se encontraram por duas vezes no mesmo mês ¿ uma em Camp David (Maryland) e outra em São Paulo. Ou então ao acordo de biocombustíveis, onde os dois países, como parceiros equivalentes, se uniram em torno de um documento com uma meta muito simples: fazer dos biocombustíveis uma nova fonte de energia, por meio de uma cooperação real. Conseguimos colocar isso em prática.

Quais foram os avanços reais conseguidos pela sua gestão à frente da diplomacia americana no Brasil? Nós tiramos as barreiras entre os EUA e o Brasil. Colocamos um adido de comércio em Recife, vamos abrir o primeiro escritório da Agência Americana para o Comércio e o Desenvolvimento (USTDA, pela sigla em inglês) no Brasil ¿ o quarto no mundo (depois de China, Índia e África do Sul) ¿, por causa da importância do país. Temos mantido uma relação muito próxima, que pôde ser vista, por exemplo, no Fórum de CEOs Brasil-EUA, que teve a presença do presidente Obama e de outros líderes, há uma semana, em Washington. O Brasil, hoje, faz parte do novo mundo. É um país de gente que arrisca, de empreendedores. E essa própria cultura do país o leva a ser parceiro natural dos EUA. Acredito que veremos, cada vez mais, um crescimento nas relações entre os países.

O senhor considera que o diálogo avançou na questão dos biocombustíveis? Não há dúvidas de que os biocombustíveis foram um importante ponto de partida para a aproximação. Mas a questão principal é criar um mercado (para os biocombustíveis), e nenhum país pode fazer isso sozinho. O Brasil e os EUA já estão nisso. Quando o ministro de Energia, Edison Lobão, esteve em Washington, na semana passada, falou sobre parcerias em todas as fontes renováveis ¿ solar, eólica. Nós buscamos saber como podemos apoiar mais o desenvolvimento de oportunidades em relação às reservas de petróleo do pré-sal.

O que ouviu do presidente Lula, às vésperas de deixar o seu posto? Considerei o encontro um reconhecimento não do meu trabalho, mas da proximidade cada vez maior entre os dois países. Nós conversamos sobre a relação próxima entre os presidentes ¿ Lula falou um pouco sobre o presidente Bush, mas focou-se principalmente no presidente Obama, e na esperança que ele tem de que Obama consiga criar essas novas pontes que tem tentado construir. Este é um momento histórico. Estamos em um ponto de construir relações ainda mais próximas, e eu creio que isso será conduzido pelos próprios presidentes Lula e Obama.

O que podemos esperar da relação entre os dois países? Nenhum país pode enfrentar sozinho os problemas que confrontam os EUA, e Obama está procurando nações como o Brasil para contribuir. Quando enumeramos os principais temas que nos preocupam, como clima, alimentos, energia, crise econômica, vemos que o Brasil tem que fazer parte da solução. O país tem tomado a liderança ¿ e deve continuar ¿ para lidar com esses temas. O Brasil tem uma visão para o mundo, com as viagens de Lula, novas embaixadas. O país tem mudado suas instituições, aberto seu mercado, procurado ajudar as multinacionais. Tudo isso vai contribuir para que a economia brasileira continue a crescer.

Como Washington vê a relação do Brasil com o Irã? O Conselho de Segurança tem se pronunciado sobre o Irã e estamos preocupados com o programa nuclear deles. Não queremos recompensar um país que não segue as resoluções do Conselho de Segurança. Mas cada país tem a sua maneira de pensar e de agir, e o Brasil também tem a sua. Queremos que a liberdade de expressão seja garantida aos iranianos.

E a visita do presidente Ahmadinejad ao Brasil? Esperamos que o Brasil ajude a trazer o Irã para o cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança.

Quais são os seus planos? Não consegui parar para me organizar. Nesta semana, teremos a visita do presidente do nosso Eximbank. Na próxima, virá o assessor de segurança nacional (general James Jones). Será, provavelmente, uma visita histórica. Quando os compromissos passarem, sei que minha mulher e eu vamos tentar ficar próximos dos amigos que fizemos aqui.

O senhor pretende investir aqui? Eu prometi a Barbara que estaríamos presentes no nascimento de nosso neto, então vamos para os EUA. Mas pretendemos voltar depois, passar um tempo no Brasil. Considero o Brasil um grande país para se investir, mas vamos ver o que o futuro nos reserva.