Título: BC: ciclo de alta de juros é indefinido
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 17/04/2011, Economia, p. 36

WASHINGTON. O Banco Central (BC) tentou relativizar ontem as sinalizações de que o processo de aumento dos juros poderá ser mais duradouro do que o esperado. Em uma apresentação em Washington, na sexta-feira, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, afirmou que o país está ¿no meio de um ciclo de aperto monetário¿ e que ainda há ¿trabalho a fazer pela frente¿. Os comentários foram assimilados pelo mercado como indicação de medidas mais duradouras de ajuste, para que se alcance a meta de inflação de 4,5% em 2012.

¿ O mercado superdimensionou a frase. Ele quis mencionar que estamos num processo ¿de¿ ciclo de aperto monetário. Mas não apontou a duração desse ciclo. Pode terminar na semana que vem ou na outra ¿ disse uma fonte do BC.

O mercado ¿tem o direito de fazer a sua leitura¿, diz a fonte:

¿ O BC estabeleceu a meta de 4,5% para 2012, então se está no processo ¿de¿ fazer tudo para que se chegue lá.

O diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, definiu o ¿reforço da vigilância multilateral¿ para avaliar problemas econômicos globais e prever crises como o principal avanço do encontro de primavera do Fundo e do Banco Mundial, encerrado ontem em Washington. Uma proposta de medidas nesse sentido será apresentada no próximo encontro, em setembro.

¿ Para resolver nossos problemas, a cooperação é crucial ¿ disse, em entrevista coletiva.

Ele apontou uma melhora na economia global, mas enfatizou que a situação segue ¿muito frágil¿ e citou o aparecimento de ¿novas vulnerabilidades¿. Questões como as disparidades cambiais e a alta dos preços das commodities foram reconhecidas como ¿sérias¿, mas não houve resoluções concretas para o enfrentamento dos problemas.

Mantega critica limites para controle de capitais

Strauss-Kahn reafirmou igualmente sua preocupação com os riscos de superaquecimento e inflação nas economias emergentes, e confirmou o controle de capitais como um dos instrumentos do kit de ferramentas sugeridos pelo FMI.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, condenou, no entanto, qualquer tentativa de restringir a forma que gerenciam o fluxo de dinheiro que entra em economias de rápido crescimento dos países emergentes:

¿ Ironicamente, alguns dos países responsáveis pela mais profunda crise desde a Grande Depressão, e que ainda têm de resolver seus próprios problemas estão ansiosos para prescrever códigos de conduta para o resto do mundo ¿ disse.

Strauss-Kahn admitiu que o critério da cesta de moedas de reserva integrantes dos Direitos Especiais de Saque (DES, formado pelo dólar, marco alemão, libra e iene) pode ser revisto ¿ o que é também uma reivindicação do Brasil, que exige a inclusão de moedas de países emergentes.

¿ Não estou dizendo que uma decisão já foi tomada. Mas nada está gravado para sempre na pedra ¿ disse.