Título: Assassino já planejava ataque há nove meses
Autor: Bottari, Elenilce; Mascarenhas, Gabriel
Fonte: O Globo, 14/04/2011, Rio, p. 18

Em novo vídeo encontrado pela polícia, Wellington dizia que as pessoas iriam conhecê-lo `da forma mais radical¿

IMAGENS DA gravação divulgada ontem: perito diz que evidências apontam as meninas como alvo principal

O ASSASSINO no vídeo gravado apenas dois dias antes da chacina

Wellington Menezes de Oliveira planejava um ataque contra uma escola há pelo menos nove meses. Nas imagens de um vídeo encontrado por peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) no disco rígido de um computador apreendido na casa do assassino, em Sepetiba, o atirador afirma que se vingaria em nome daqueles que, como ele, ¿são humilhados, agredidos e desrespeitados, principalmente em escolas e colégios, pelo fato de serem diferentes¿.

¿ As pessoas me desrespeitam, acham que eu sou um idiota, se aproveitam da minha bondade, me julgam antecipadamente, são falsas, descobrirão quem eu sou da forma mais radical ¿ afirmou o assassino na gravação.

Perícia tenta recuperar dados apagados

A polícia científica começou anteontem a recuperar dados que haviam sido apagados do computador do assassino. Segundo o diretor-geral de Polícia Técnica, Sérgio Henriques, os últimos registros do disco rígido são de julho de 2010:

¿ Nosso objetivo é recuperar dados apagados. Isso pode levar três dias, depende da quantidade de informações apagadas. Depois de recuperados, vamos começar uma fase de buscas, por fotos, textos, conversas no Orkut. Tudo o que for interesse na investigação.

Para ele, as provas e os laudos cadavéricos mostram que o alvo do assassino era, principalmente, as meninas:

¿ No vídeo, ele diz que não era bobo, que iria se vingar da forma mais cruel, principalmente em nome dos que foram injustiçados. Examinando todo o material, inclusive os laudos cadavéricos, percebe-se que ele fala sempre sobre os que vivem em pecado, impuros, os não castos. E parece que o alvo dele eram principalmente as meninas. Os tiros nas meninas foram em áreas vitais.

Segundo Henriques, várias passagens mostram ainda que Wellington tinha um quadro de esquizofrenia, doença em que o paciente tem consciência do que está fazendo:

¿ Ele poderia até pensar que matando os impuros, estaria fazendo um bem para a Humanidade, mas sabia exatamente o que estava fazendo. Fez planejado e consciente.

Em outro vídeo, divulgado anteontem pelo ¿Jornal Nacional¿, da Rede Globo, que teria sido gravado dois dias antes do massacre, Wellington afirmava ter visitado a escola para planejar o crime:

¿ A luta pela qual muitos irmãos no passado morreram, e eu morrerei, não é exclusivamente pelo que é conhecido como bullying.

A Justiça autorizou a quebra do sigilo de seis e-mails e MSN usados por Wellington. O objetivo é descobrir com quem ele se relacionava. Como o atirador deixou claro em cartas sua obsessão por ataques terroristas, a Polícia Federal enviou para o Rio uma equipe do Setor Antiterrorismo (Santer) para investigar se o assassino tem ligação com algum grupo extremista ou se as citações são apenas fruto de uma mente perturbada.

Para psiquiatra, Wellington delirava há muito tempo

A incoerência entre o discurso pregando justiça aos oprimidos e a barbárie do ato torna ainda mais incompreensível o massacre na escola. O vídeo divulgado ontem deixa claro para o psiquiatra forense Talvane de Moraes que o atirador estava em delírio esquizofrênico há muito tempo:

¿ Não há lógica nos pensamentos dele. É como se vivesse num mundo paralelo, semelhante aos sonhos, em que imagens, pessoas e a noção de tempo e espaço não têm nexo. Enquanto o sonho é uma loucura curta, a loucura é um sonho longo.

O especialista explica que, pelos vídeos e cartas deixadas por Wellington, percebe-se que é como se ele tivesse composto um personagem a partir de referências antagônicas.

¿ Ele misturou islamismo, misticismo, terrorismo, auto-isolamento e pureza para construir uma teoria de justiceiro e justificar um massacre contra crianças. O fato de ter planejado mostra que ele estava lúcido, mas apenas do ponto de vista sensorial, sem, porém, ter capacidade para de valorar as coisas como uma pessoa normal ¿ afirmou Talvane, salientando que nem todo paciente esquizofrênico representa ameaça e que a doença é tratável.

oglobo.com.br/rio