Título: Fundos podem ser desbloqueados conta Kadafi
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Fonte: O Globo, 14/04/2011, O Mundo, p. 31

Países e organizações internacionais propõem criação de mecanismos financeiros para ajudar insurgentes na Líbia

DOHA. Em sua primeira reunião, no Qatar, o chamado Grupo de Contato para a Líbia ¿ formado por cerca de 20 países e organizações como ONU, Otan, Liga Árabe e União Africana ¿ propôs desbloquear fundos líbios no exterior para ajudar os rebeldes que combatem o ditador Muamar Kadafi. Na presença de líderes da insurgência, o grupo concordou em ¿explorar ao máximo¿ as possibilidades da Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, o que poderia resultar na decisão de armar a oposição. O Reino Unido deu um novo passo nessa questão, anunciando que começaria a fornecer aos rebeldes, imediatamente, equipamentos ¿não letais¿ para ajudá-los no combate, num momento em que nem os opositores nem as forças de Kadafi conseguem grandes avanços por terra.

O Grupo voltou ainda a pedir a saída de Muamar Kadafi, e exortou o ditador a retirar suas tropas ¿das cidades invadidas¿ e declarar um cessar-fogo.

O texto final da reunião pede o ¿estudo de um mecanismo financeiro para facilitar a assistência econômica ao Conselho Nacional Líbio¿. Ele seria criado mediante o desbloqueio de fundos repartidos em diferentes países, e que em sua maioria correspondem a pagamentos procedentes do petróleo.

Diplomatas advertiram que a ajuda ao leste da Líbia ¿ região onde se encontra Benghazi, a sede do movimento opositor ¿ precisa respeitar as sanções econômicas impostas ao país pela ONU. Os dirigentes, no entanto, concordaram que o fornecimento de produtos e serviços básicos à região poderiam impulsionar a liderança do Conselho rebelde, e dar maior credibilidade ao grupo dentro da Líbia ¿ num momento em que cerca de 3,6 milhões de pessoas necessitam de ajuda humanitária no país, segundo a ONU.

Além da criação desse mecanismo financeiro, foram debatidas outras formas de financiar os rebeldes, como pelo uso dos bens congelados de Kadafi pela comunidade internacional. O grupo também discutiu a opção de fornecer armas aos insurgentes, depois que o porta-voz do Conselho rebelde, Mahmud Awad Shamman fez um pedido aos países presentes na reunião por melhores equipamentos para tentar vencer Kadafi.

Moussa Koussa não é recebido pela oposição

Contudo, a questão continua a dividir os países da coalizão internacional. Enquanto para a Bélgica o embargo de armas da ONU para a Líbia se aplica também aos rebeldes, outros países, como a Itália se mostraram favoráveis à medida. Em Paris, onde assistiu a um encontro entre o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o premier britânico, David Cameron, uma fonte diplomática garantiu que a França não planeja armar insurgentes, apesar de considerar a opção viável legalmente.

¿ Armar os rebeldes não parece necessário porque o Conselho Nacional Líbio não está com problemas para conseguir armas ¿ disse a fonte.

No Qatar, para onde havia voado na véspera, Moussa Koussa, o ex-chanceler de Kadafi, não foi recebido pelo movimento opositor líbio. Koussa era considerado um dos principais aliados do ditador, mas fugiu para Londres há duas semanas.

¿ Ele pulou do barco no último momento, esteve muito tempo implicado com o regime ¿ disse Shamman. ¿ Saudamos sua saída do governo, mas isso não quer dizer que ele é membro do nosso conselho.