Título: Um país cada vez mais gordo
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 19/04/2011, Ciência, p. 28

Em cinco anos, percentual de brasileiros com sobrepeso pula de 42% para 48%

Os brasileiros estão cada vez mais gordos, revela pesquisa do Ministério da Saúde divulgada ontem. Sem o hábito de praticar exercícios e com uma alimentação ruim, muito rica em gordura e pobre em frutas e verduras, 48,1% dos adultos têm excesso de peso. A obesidade alcança 15% da população brasileira acima dos 18 anos. E o Rio já é uma cidade de gordos. Segundo o estudo, é a segunda capital do país em número de pessoas com sobrepeso, 53%, perdendo apenas para Rio Branco, no Acre, onde o percentual é de 55%.

Relacionado a doenças como hipertensão, diabetes e problemas coronarianos, o sobrepeso vem se agravando no país. Em 2006, 42,7% dos brasileiros estavam acima do limite. Em 2010, esse índice já estava em 48,1%, o que representa uma elevação de 5,4 pontos percentuais - num período de cinco anos. O mesmo ocorreu em relação à obesidade, que pulou de 11,4% para 15%, no mesmo intervalo.

- O excesso de peso decorre do sedentarismo e de padrões alimentares inadequados. Essa é uma tendência mundial e o Brasil não está isolado. Ela é um reflexo do baixo consumo de alimentos saudáveis, como frutas, legumes e verduras, e do uso em excesso de produtos industrializados - resumiu a coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta.

Os resultados da pesquisa alarmaram o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa:

- Se nós mantivermos o ritmo de crescimento (da obesidade) que o Brasil vem tendo, em 13 anos nós vamos ter o mesmo índice de prevalência que os Estados Unidos têm atualmente.

Embora a briga com a balança seja um problema comumente associado às mulheres, os homens são as maiores vítimas do sobrepeso. O levantamento mostra que, no ano passado, 52,1% deles estavam acima do limite, diante de 44,3% das mulheres. No caso da obesidade, porém, a situação se inverte: 15,5% das mulheres enfrentavam o problema, contra 14,4% dos homens.

A pesquisa é realizada anualmente desde 2006, pelo Ministério da Saúde e o Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP). Feita por telefone, é chamada de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Em 2010, foram entrevistados 54.339 adultos, nas 27 capitais do país.

O levantamento revela que o sobrepeso atinge mais a população com menos escolaridade - o que pressupõe menor renda. Entre os adultos com até oito anos de estudo, 52,1% têm excesso de peso. Na faixa de 12 anos ou mais de estudo, o índice cai para 46,7%.

A classificação de sobrepeso é feita com base no Índice de Massa Corporal (IMC), que leva em conta o peso e a altura. Quem tem IMC igual ou superior a 25 entra na estatística de sobrepeso; acima de 30, é considerado obeso. A fórmula é simples: divide-se o peso pelo quadrado da altura. Assim, no caso de uma pessoa com 80 quilos e 1,70 metro de altura, deve-se dividir 80 (peso) por 2,89 (resultado de 1,70 x 1,70). O resultado é um IMC de 27,6.

O sedentarismo é uma das explicações para o problema. A pesquisa mostra que apenas 14,9% dos brasileiros praticam exercício em seu tempo livre. Esse percentual é maior entre os homens, 18,6%, do que entre as mulheres, 11,7%. Mesmo considerando-se a população que pratica exercício em seus deslocamentos - o que pode incluir uma caminhada até o local de trabalho -, o índice não chega a um terço dos brasileiros, atingindo 30,8%.

Os hábitos alimentares ruins contribuem ainda mais para o agravamento do sobrepeso. Mais da metade da população adulta, 56,4%, consome leite integral (gordo), 34,2% comem carnes com excessos de gordura e 28,1% bebem refrigerantes regularmente (cinco vezes na semana) - alimentos considerados como fatores de risco. Já o consumo regular de frutas e hortaliças (cinco ou mais porções por dia), tido como fator de prevenção, é regra somente para 18,2% da população.

O levantamento avaliou também o tabagismo e consumo de álcool. A pesquisa revelou que a proporção de fumantes no país caiu de 16,2% para 15,1%, entre 2006 e 2010. Entre os homens, a redução foi de 20,2% para 17,9%. Entre as mulheres, o índice permaneceu o mesmo: 12,7%. O hábito é mais comum entre as pessoas que estudam menos. Na faixa da população que tem mais de 12 anos de estudo, a proporção de fumantes é de 10,2% - bem menor do que os 18,6% registrados entre quem tem, no máximo, oito anos de estudo.

A pesquisa indica ainda o crescimento no percentual de mulheres que declararam exagerar no consumo de bebida alcoólica: de 8,2% (em 2006) para 10,6% (em 2010). Entre os homens, a proporção variou de 25,5% (2006) para 26,8% (2010). Na média, 18% da população disseram exagerar na bebida, o que significa consumir cinco ou mais doses, no caso dos homens, e quatro ou mais, no das mulheres, numa mesma ocasião, em um mês.