Título: Mantega: país não é tolerante com inflação
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 19/04/2011, Economia, p. 22

Ministro afirma que governo reduzirá imposto caso tenha que reajustar gasolina

NOVA YORK e BRASÍLIA. Em um encontro com investidores e analistas marcado pela preocupação com a inflação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem, em Nova York, que o governo está tomando todas as medidas para evitar que a elevação dos preços das commodities se propague para outros setores da economia. Ele também voltou a dizer que não há previsão de aumento da gasolina no Brasil.

O ministro lembrou que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou duas vezes seguidas a taxa de juros e que o governo elevou o superávit fiscal primário. O Copom volta a se reunir esta semana e decide a nova taxa básica de juros da economia amanhã. Diante da pergunta de um investidor que queria saber se o Brasil vem se mostrando muito paciente com a inflação, Mantega disse que o país não está sendo "nem paciente nem tolerante":

- As medidas estão sendo tomadas no devido tempo. É impossível reduzir a inflação das commodities, porque ela é internacional. Você pode botar a taxa de juros que quiser, fazer a restrição de crédito que quiser, que o preço do trigo vai continuar no mesmo patamar.

Segundo o ministro, o mais importante é que o país conseguiu reduzir o ritmo de crescimento da economia doméstica. Ele frisou que algumas medidas levam até seis meses para surtir efeito. Mantega culpou o "regime de chuvas mais longo" e a entressafra na produção do etanol pela pressão inflacionária.

Meirelles diz que não houve interferência de Lula

Antes do encontro, o economista-chefe do Barclay"s Capital, Marcelo Salomon, afirmou que teria sido mais adequado agir antes contra a inflação, ecoando uma preocupação de vários participantes do evento.

- Não estamos otimistas quanto a ver a inflação no centro da meta - disse Salomon.

- Se a meta de inflação for comprometida, eles terão que se reorganizar - disse a vice-presidente do Fundo Oppenheimer, Claudia Ribeiro de Castro.

O ministro disse acreditar numa estabilização dos preços das commodities no mercado internacional nos próximos meses.

- Só no caso do petróleo, que depende da situação política no Oriente Médio, é que não podemos fazer previsão - afirmou, acrescentando que não há plano de reajuste da gasolina. - Em outros países, quando sobe o preço do petróleo, imediatamente vai para a bomba. No Brasil não é assim. A Petrobras faz uma política correta, na qual diminui a volatilidade. Ela tem um fôlego, não sei exatamente de quanto tempo, mas não é necessária uma elevação imediata do preço. Se isso for necessário, podemos baixar a Cide (o imposto sobre o combustível) e neutralizar o aumento.

Também em Nova York, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles negou ter sido impedido de aumentar os juros em dezembro, no final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme informou O GLOBO na edição de domingo. Em um evento sobre o país promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, Meirelles reafirmou a independência do BC:

- O presidente não me pediu para não aumentar os juros em dezembro. A autonomia do Banco Central é fato público e notório durante todo aquele período, testemunhado por um número grande de pessoas do mercado que passaram por lá e hoje estão fora do BC.

No mercado financeiro, a previsão é de que o IPCA deste ano, índice usado nas metas de inflação do governo, ficará em 6,29% - acima do centro da meta, de 4,5%, e mais perto do teto máximo projetado, de 6,5%. Foi a sexta revisão consecutiva para cima no relatório Focus, do Banco Central.

Mercado prevê alta de meio ponto na Selic amanhã

Com isso, os analistas já esperam um aumento de meio ponto percentual na taxa básica Selic, hoje em 11,75% ao ano, na reunião do Copom desta semana. Esse meio ponto vem acima do 0,25 que parte do mercado vinha esperando. Mesmo assim, a expectativa é que o ciclo de aumento de juros seja curto e que o BC deixe isso claro na reunião que termina amanhã.

- Prolongá-lo muito prejudicaria a cotação do dólar e criaria incertezas - disse Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio.

COLABOROU: Vivian Oswald Mantega: país não é tolerante com inflação

Ministro afirma que governo reduzirá imposto caso tenha que reajustar gasolina

Fernanda Godoy

NOVA YORK e BRASÍLIA. Em um encontro com investidores e analistas marcado pela preocupação com a inflação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem, em Nova York, que o governo está tomando todas as medidas para evitar que a elevação dos preços das commodities se propague para outros setores da economia. Ele também voltou a dizer que não há previsão de aumento da gasolina no Brasil.

O ministro lembrou que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou duas vezes seguidas a taxa de juros e que o governo elevou o superávit fiscal primário. O Copom volta a se reunir esta semana e decide a nova taxa básica de juros da economia amanhã. Diante da pergunta de um investidor que queria saber se o Brasil vem se mostrando muito paciente com a inflação, Mantega disse que o país não está sendo "nem paciente nem tolerante":

- As medidas estão sendo tomadas no devido tempo. É impossível reduzir a inflação das commodities, porque ela é internacional. Você pode botar a taxa de juros que quiser, fazer a restrição de crédito que quiser, que o preço do trigo vai continuar no mesmo patamar.

Segundo o ministro, o mais importante é que o país conseguiu reduzir o ritmo de crescimento da economia doméstica. Ele frisou que algumas medidas levam até seis meses para surtir efeito. Mantega culpou o "regime de chuvas mais longo" e a entressafra na produção do etanol pela pressão inflacionária.

Meirelles diz que não houve interferência de Lula

Antes do encontro, o economista-chefe do Barclay"s Capital, Marcelo Salomon, afirmou que teria sido mais adequado agir antes contra a inflação, ecoando uma preocupação de vários participantes do evento.

- Não estamos otimistas quanto a ver a inflação no centro da meta - disse Salomon.

- Se a meta de inflação for comprometida, eles terão que se reorganizar - disse a vice-presidente do Fundo Oppenheimer, Claudia Ribeiro de Castro.

O ministro disse acreditar numa estabilização dos preços das commodities no mercado internacional nos próximos meses.

- Só no caso do petróleo, que depende da situação política no Oriente Médio, é que não podemos fazer previsão - afirmou, acrescentando que não há plano de reajuste da gasolina. - Em outros países, quando sobe o preço do petróleo, imediatamente vai para a bomba. No Brasil não é assim. A Petrobras faz uma política correta, na qual diminui a volatilidade. Ela tem um fôlego, não sei exatamente de quanto tempo, mas não é necessária uma elevação imediata do preço. Se isso for necessário, podemos baixar a Cide (o imposto sobre o combustível) e neutralizar o aumento.

Também em Nova York, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles negou ter sido impedido de aumentar os juros em dezembro, no final do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme informou O GLOBO na edição de domingo. Em um evento sobre o país promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, Meirelles reafirmou a independência do BC:

- O presidente não me pediu para não aumentar os juros em dezembro. A autonomia do Banco Central é fato público e notório durante todo aquele período, testemunhado por um número grande de pessoas do mercado que passaram por lá e hoje estão fora do BC.

No mercado financeiro, a previsão é de que o IPCA deste ano, índice usado nas metas de inflação do governo, ficará em 6,29% - acima do centro da meta, de 4,5%, e mais perto do teto máximo projetado, de 6,5%. Foi a sexta revisão consecutiva para cima no relatório Focus, do Banco Central.

Mercado prevê alta de meio ponto na Selic amanhã

Com isso, os analistas já esperam um aumento de meio ponto percentual na taxa básica Selic, hoje em 11,75% ao ano, na reunião do Copom desta semana. Esse meio ponto vem acima do 0,25 que parte do mercado vinha esperando. Mesmo assim, a expectativa é que o ciclo de aumento de juros seja curto e que o BC deixe isso claro na reunião que termina amanhã.

- Prolongá-lo muito prejudicaria a cotação do dólar e criaria incertezas - disse Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio.

COLABOROU: Vivian Oswald