Título: Em um dia, empresas de Eike perdem R$12 bilhões
Autor: Carneiro, Lucianne; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 19/04/2011, Economia, p. 21
Tombo se deve à revisão de reservas da OGX. Para empresário, relatório "nasce velho como "
Bruno Villas Bôas e Danielle Nogueira
O empresário Eike Batista, oitavo homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes, viu ontem encolher parte de sua fortuna. O valor de mercado das empresas "Xs" - como são conhecidas as companhias de Eike por serem sempre batizadas com a letra - foi reduzido em R$11,9 bilhões ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O tombo foi reflexo de um relatório da certificadora DeGolyer and MacNaughton (D&M) sobre as reservas de petróleo da OGX, braço pretrolífero do empresário.
Sexta-feira passada, OGX, MMX (mineração), LLX (logística), PortX (portos), OSX (estaleiro) e MPX (energia) exibiam somadas um valor de mercado de R$76,2 bilhões. Ontem, após a queda dos mercados, essas mesmas empresas valiam R$88,19 bilhões, segundo a consultoria Economática.
A queda foi puxada pela OGX, cujas ações ordinárias (ON, com voto) despencaram 17,25%, a R$16,26. Ela perdeu R$10,96 bilhões em valor de mercado. O volume financeiro do papel foi de R$1,5 bilhão, 22,5% do total do Ibovespa, referência da Bolsa. Em geral, os negócios com a ação somam entre R$100 milhões e R$300 milhões por dia. O desempenho pesou sobre outras empresas de Eike: MMX (R$363,2 milhões), LLX (R$180,2 milhões), OSX (R$168 milhões), PortX (R$69,4 milhões) e MPX (R$188 milhões).
Segundo analistas, investidores estrangeiros foram os principais responsáveis pela venda de ações da empresa, em um dia volátil e de perdas nas bolsas mundiais. Bancos como BTG Pactual, Citibank, Deutsche Bank e Santander reviram suas expectativas para a OGX. Em vez de "compre", a recomendação passou a "neutro".
A principal razão para a revisão foram as estimativas de reservas para a Bacia de Campos, que totalizaram 5,7 bilhões de barris de petróleo equivalente (inclui óleo e gás). A D&M usou três categorias: 1,4 bilhão de barris em recursos prospectivos (estimativas baseadas apenas em sísmica); 1,3 bilhão de barris em recursos contingentes (quando já foram perfurados poços e já se encontrou petróleo) e 3 bilhões de barris em recursos em delineação (quando o petróleo está distante dos poços perfurados).
Esta última, criada pela D&M, indicaria menor probabilidade de recuperação do petróleo no fundo do mar. Como muitos analistas não usam tal categoria, estimavam os recursos contingentes em 4 bilhões de barris. Além disso, a intenção de a OGX vender 10% e não mais 30% dos blocos da Bacia de Campos não agradou ao mercado, que já duvida da operação.
Em teleconferência, Eike, que ocupa a presidência-executiva da OGX, disse que a D&M não considerou os 15 poços perfurados este ano na bacia e comparou o relatório ao filme "O curioso caso de Benjamin Button", em que o ator Brad Pitt inicia a vida idoso:
- O relatório foi divulgado com notícias antigas, porque não contempla esses 15 poços. É como o Benjamin Button, já nasceu velho.
O diretor-geral da OGX, Paulo Mendonça, disse que mais 15 poços serão perfurados em 2011.