Título: Aécio defendeu bafômetro quando era governador
Autor: Braga, Ronaldo; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 19/04/2011, O País, p. 9

Senador, que se recusou a fazer o teste em blitz da Lei Seca, frisou a importância dessas operações em vídeo de 2009

Ronaldo Braga, Adriana Vasconcelos e Thiago Herdy

RIO, BRASÍLIA E BELO HORIZONTE. Apanhado em uma blitz da Lei Seca, na madrugada de domingo, no Leblon, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que estava com a carteira vencida e se recusou a fazer o bafômetro, enfatizou a importância dessas operações há dois anos, quando governava Minas Gerais. "Prefiro muito mais que alguém passe o carro para alguém que não bebeu do que ser multado e perder sete pontos na carteira. Então, nesses grandes locais de concentração de festas, que tradicionalmente são locais de volume maior de acidentes, nós estamos montando essa estratégia. Quero até comunicar com clareza que as saídas desses locais serão fiscalizadas com bafômetro. Acho que é uma forma de você educar com um pouco mais de vigor", disse Aécio, em vídeo gravado em 2009, quando a Lei Seca completou um ano.

O tucano recebeu duas multas: uma de R$191,54, por usar uma carteira de habilitação vencida, e outra de R$957, por ter se recusado a fazer o teste do bafômetro. Perdeu 14 pontos na carteira pelas duas infrações, consideradas gravíssimas.

Ontem, o governador do Rio, Sérgio Cabral, afirmou que o episódio está superado. Em sua avaliação, Aécio agiu "como qualquer cidadão" e não fugiu da aplicação da lei ao entregar o veículo para outro condutor.

- Aécio se comportou como um cidadão comum. Acho que ele agiu com a simplicidade que o caracteriza. É meu amigo querido, que o Rio de Janeiro respeita e gosta. Ele me ligou para dizer: "Parabéns pela educação dos servidores da Operação Lei Seca, pela maneira que eu vi eles estarem tratando os outros também, com enorme respeito".

No Congresso, declarações de solidariedade e críticas

A Secretaria estadual de Governo do Rio informou que o senador, o primeiro a ser parado pela Lei Seca, recusou-se a fazer o teste do bafômetro. Segundo testemunhas, ele não chegou a sair do seu veículo. Só foi liberado depois que um taxista assumiu a direção da sua Land Rover. Estava acompanhado por sua namorada e um outro casal.

O Detran esclareceu ontem que todas as informações sobre carteiras de habilitação vencidas seriam passadas pela Secretaria de Governo, que, por sua vez, nada informou.

No Congresso, Aécio recebeu manifestações de solidariedade, mas também foi criticado. O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), tentou minimizar o episódio:

- O senador Aécio já explicou que não sabia que sua carteira de motorista estava vencida. Agiu como um cidadão comum, que respeita as instituições. Tanto que não contestou a operação. Pelo contrário, elogiou a ação e se submeteu à lei.

Já o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO), criticou Aécio:

- Acho que ele agiu mal, porque, ao se recusar a fazer o teste do bafômetro, abriu a oportunidade para que se estabelecesse a presunção de culpa. Beber não é crime, mas beber e dirigir é.

No Twitter, o PT nacional explorou o caso e informou que Aécio se recusara a fazer o teste. Contrariando colegas do partido, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) defendeu Aécio com a seguinte mensagem: "@pt_nacional acho baixaria vcs ficarem falando do Aécio. Podia acontecer c qq um. Façam críticas políticas. Tenho vergonha disso!".

A caminhonete Land Rover que Aécio dirigia está registrada em Minas, em nome da Rádio Arco-Íris Ltda, afiliada da Jovem Pan em Belo Horizonte, que tem Aécio como sócio desde dezembro do ano passado. A sócia majoritária é a irmã de Aécio, Andrea Neves da Cunha.