Título: Brasil quer debate cambial na OMC
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 16/04/2011, Economia, p. 27

Documento pedirá punições para guerra de divisas. Alvo principal é a China

BRASÍLIA. Com o dólar derretendo frente ao real e cansado de esperar respostas concretas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para temas como controle de capitais e regime de câmbio mais adequado, o Brasil decidiu recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). No próximo mês, o governo apresentará ao Comitê sobre Comércio, Dívida e Finanças do organismo um documento no qual vai propor um amplo debate. A iniciativa tem como objetivo a criação de regras e punições que reduzam os efeitos da guerra cambial.

Os debates estão programados para ocorrer este ano e em 2012, quando o comitê deverá concluir o trabalho. A queixa do Brasil é direcionada a China, Coreia do Sul, Cingapura, Taiwan e a outros países que seguem o câmbio chinês - o yuan é artificialmente desvalorizado em relação ao dólar, o que mina a competitividade das exportações brasileiras.

A expectativa é que o Brasil seja acompanhado por países que convivem com dólar depreciado frente às suas moedas, incluindo Índia e a África do Sul.

Iniciativa é para mostrar que país "não está inativo"

Dentro do governo, é consenso que dificilmente sairão da consulta à OMC medidas capazes de debelar a guerra cambial, protagonizada por China e Estados Unidos. Uma fonte da área econômica disse que a ideia é promover um debate sobre a possibilidade de interação entre taxa de câmbio e comércio exterior.

- É apenas o início. Estamos sinalizando que o Brasil não está inativo - afirmou um técnico.

Margarida Gutierrez, professora do Instituto Coppead da UFRJ, concorda que a situação é complicada para o Brasil, pois há uma tendência mundial. Segundo ela, o governo deveria melhorar as condições de competitividade da indústria brasileira, "mas isso não é algo que se faz por decreto":

- Muito está sendo feito, e, embora os resultados não sejam visíveis, o real poderia estar ainda mais valorizado. A questão é que o dólar não para de cair e a tendência de apreciação do real tem a ver com a política monetária americana.

Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, afirmou que não há como fugir de uma realidade: o Brasil atrai investimentos, pois tem taxas de juros altas. Além disso, é um país que cresce e tem perspectiva de retorno financeiro de médio e longo prazos.

- Nesse caso, a valorização é natural. O que não é natural é a China manter o câmbio artificialmente desvalorizado, para que seus produtos sejam competitivos - afirmou Leite.

Para ele, o maior desafio é convencer os chineses a toparem um acordo. Ele não acredita que o problema será resolvido na OMC, embora considere positiva uma negociação sobre o tema do ponto de vista multilateral.