Título: Costura por um fio
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 01/08/2009, Mundo, p. 22

A crise desatada pela questão das bases americanas na Colômbia, acirrada pelas denúncias de Bogotá sobre o suposto desvio de armas suecas da Venezuela para a guerrilha das Farc, atingiu em cheio a delicada costura pela qual o Brasil conseguiu viabilizar, no fim de 2008, o Conselho de Defesa Sul-Americano. Foi um passo decisivo para dar concretude maior à Unasul como expressão organizada do projeto de integração do subcontinente.

Não por acaso, Álvaro Uribe foi o último governante a aderir ao acordo de defesa comum. Foi convencido por Lula, à custa de gestos simbólicos ¿ uma visita à Colômbia para a festa da independência ¿ e concessões reais. A mais importante foi o veto explícito ao reconhecimento de qualquer força armada que não os exércitos regulares dos países-membros, o que impediu na prática que a Venezuela de Hugo Chávez ou o Equador de Rafael Correa pudessem manter qualquer tipo de relação oficial com a guerrilha colombiana.

Como fiador desse complexo acerto, o governo brasileiro se vê na posição de colocar Uribe na berlinda para explicar a cessão de bases para tropas americanas. A ausência do presidente colombiano na reunião de Quito pode transformá-lo em alvo fácil para Chávez, Correa e seus aliados. Difícil será a missão de refrear os ataques inevitáveis ao governo de Bogotá: se ultrapassarem os limites, eles poderão colocar em risco a sobrevivência do conselho como instrumento efetivo de segurança coletiva.