Título: Tensão e ameaça em Honduras
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 01/08/2009, Mundo, p. 22

Os sinais que vêm da fronteira da Nicarágua com Honduras são cada vez mais difusos e se chocam com as informações procedentes da Casa Presidencial, em Tegucigalpa. Em entrevista à emissora Canal 4, de Manágua, o presidente deposto hondurenho, Manuel Zelaya, avisou: ¿Ou revertemos o golpe ou haverá violência generalizada no país¿. ¿Os povos têm direito a protesto, à insurreição, como é o caso do povo hondurenho, que está sendo brutalmente reprimido¿, declarou. Em Ocotal, a apenas 25km do país vizinho, o Correio falou por telefone com Juda Chávez, simpatizante de Zelaya que contou estar reunido com mais de 2 mil pessoas, em apoio ao presidente. ¿Estamos preparando as pessoas em nome da democracia, pacificamente. As únicas armas que nós temos são nossas mãos¿, disse. ¿Tomamos de assalto a cidade de Choloma, um importante entreposto de exportação de Honduras. A polícia segue molestando o povo, continua matando as pessoas.¿ A reportagem tentou entrar em contato com Zelaya, mas Juda revelou que o líder deposto estava indisponível no momento, em meio a reuniões.

Em Tegucigalpa, o presidente de fato, Roberto Micheletti, admitiu que Zelaya pode receber autorização para retornar a Honduras para responder na Justiça às acusações de abuso de poder. ¿Mas sob nenhuma circunstância o deixaremos tomar posse do governo¿, alertou. Ele também criticou Hugo Llorens, embaixador dos EUA no país, por ter viajado a Ocotal para se reunir com Zelaya. ¿O embaixador americano cometeu um grave erro e esse foi um ato de intromissão nos assuntos hondurenhos¿, esbravejou. Enquanto isso, a aparente calma que reinava na capital até a quinta-feira deu lugar a pancadaria e protestos. Sob a regência da primeira-dama Xiomara Castro de Zelaya, cerca de 3 mil seguidores do líder deposto tomaram as ruas e gritaram contra o ¿governo golpista¿.

¿Nas manifestações de ontem (quinta-feira), houve muita violência. Os policiais feriram 88 pessoas e detiveram 400¿, disse à reportagem o empresário Armando Suárez. ¿Pelo menos 200 já morreram, vítimas de execuções extrajudiciais, nas montanhas¿, garantiu. A Organização dos Estados Americanos (OEA) adiou para a semana que vem a reunião de ontem que discutiria a crise.