Título: Acabou a moleza, vamos, vamos
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 24/04/2011, Economia, p. 31

Segundo sindicato, trabalho na linha de produção é comandado aos gritos

JUNDIAÍ (SP). Os 3.200 funcionários do complexo industrial da Foxconn em Jundiaí, no interior de São Paulo, trabalham em ritmo acelerado, cadenciado pelos gritos dos chefes de "vamos, vamos" e "acabou a moleza, vamos, vamos". Já na fábrica da Foxconn em Indaiatuba, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da região, Jair dos Santos, o conflito entre sindicalistas e a direção local da empresa é permanente. Apesar do número menor de empregados em relação à fábrica de Jundiaí (são 800 empregados na cidade), o desrespeito às leis trabalhistas seria maior, de acordo com o sindicalista.

- Eles não respeitam a legislação brasileira, nem os acordos coletivos. Se não estamos vigilantes e presentes, eles não respeitam - observa Santos, lembrando que, a exemplo de Jundiaí, os líderes e coordenadores de produção gritam o tempo todo para pressionar os trabalhadores. - Os brasileiros não estão acostumados com isso (gritos), diz ele.

A força de trabalho da fábrica de Jundiaí é formada basicamente por ex-donas de casa e ex-trabalhadores em firmas de telemarketing da região, que não desfrutavam dos benefícios oferecidos pela empresa, como plano de saúde, alimentação, vale-supermercado, Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e um salário compatível com o das empresas do mesmo segmento na região.

- Hoje, o salário de um iniciante é de R$1.042. A empresa, depois de várias ações do sindicato, se enquadrou nas leis brasileiras e dispõe até de um plano de cargos e salários - contou Evandro Oliveira Santos, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí.

Segundo a operadora de testes e delegada sindical Andréia Barbosa, melhoraram muito as condições de trabalho nos últimos dois anos, mas ainda é necessário investir mais no treinamento e qualificação de gerentes, líderes e coordenadores, que muitas vezes se excedem na cobrança por maior produção.

O histórico de irregularidades trabalhistas da Foxconn não é novidade nos países onde mantém unidades. No início das operações no Brasil, em 2007, uma blitz do Ministério Público do Trabalho flagrou 21 trabalhadores chineses ilegais trabalhando na fábrica de Jundiaí. A empresa acabou sendo multada em R$56 mil e os trabalhadores irregulares, deportados. Na época, os fiscais também relataram péssimas condições no local, e que cerca de 185 funcionários permanentes estavam como provisórios. No ano passado, uma greve de sete horas em Jundiaí acabou obrigando a companhia a parar com a contratação de provisórios.

A Foxconn, que faturou US$59 bilhões em 2010, também foi alvo de denúncias de más condições de trabalho na China. No ano passado, a empresa ganhou fama no mundo depois que 18 funcionários em Shenzhen tentaram o suicídio e 14 morreram. A solução da empresa foi aumentar salários, colocar grades nas janelas e fazer os funcionários assinarem contratos se comprometendo a não se suicidar. (Lino Rodrigues, enviado especial)