Título: Maioria dos fiéis é de estreantes na política
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 24/04/2011, O País, p. 11

Desde 2007, troca-troca partidário pode levar à perda de mandato

SÃO PAULO. A alta rotatividade chama a atenção também no caso do deputado licenciado Armando Vergílio (PMN-GO), hoje secretário do governo de Marconi Perillo (PSDB), em Goiás. Em dois anos de vida política, ele segue para o seu terceiro partido. Iniciou carreira política no PTB, em 2009. No mesmo ano foi para o PMN e agora aderiu ao PSD.

Kassab entra nesta lista, com filiações a PL, DEM e agora PSD. Somente 13 dos 31 parlamentares do novo partido permaneceram fiéis a uma legenda até hoje. A maioria deles, entretanto, é de novatos.

Desde 2007, o troca-troca partidário é proibido no país, sendo punido com a perda do mandato. Somente são permitidas trocas se o político provar que foi perseguido ou houve descumprimento pelo partido do seu programa ou estatuto. A medida foi considerada uma vitória da sociedade na luta pela moralização da política.

Poucos dias após anunciar a criação do PSD, Kassab defendeu um abrandamento da fidelidade partidária, que classificou como uma "camisa de força". Ele colocou-se favorável à criação de uma "janela" que permitisse a troca de partido a cada fim de mandato. A proposta foi vetada no início deste mês na comissão que discute o assunto no Senado.

O deputado Junji Abe (DEM-SP) disse que é a favor da fidelidade partidária e justificou a sua lista de filiações a circunstâncias políticas. Ele explicou que deixou o PDS quando o partido estava perto de ser extinto e destacou que, no caso do PL, a saída foi motivada por uma intervenção da esfera nacional na legenda em São Paulo.

- Isso não me desqualifica politicamente. Os partidos pelos quais passei sempre tiveram alguma semelhança programática - afirmou.

Silas Câmara (PSC-AM) disse que, na época em que fez as mudanças, elas eram permitidas pela legislação eleitoral e que todas foram pautadas pelos interesses do seu estado. Do seu primeiro partido, o PL, saiu porque recebeu um convite do então governador Amazonino Mendes, e a bancada de deputados era pequena, não tendo força para defender propostas em discussão sobre a Zona Franca de Manaus.

Do PFL saiu para comandar o PTB no estado, onde ficou até um adversário político se filiar à legenda. Depois deixou o PAN porque esse fundiu-se com o PTB e agora vai para o PSD porque, diz ele, "quer ter independência para dizer sim para as coisas boas e não para a ruins".

- Todas essas mudanças foram feitas com transparência. Os motivos são conhecidos no meu estado, e a população me apoiou, porque tive 128 mil votos no ano passado, 8,4% dos votos válidos do estado - afirmou.

O GLOBO deixou recado no telefone do secretário Armando Vergílio e falou com um assessor dele, mas não teve retorno.