Título: Batalha com jeito de reprise
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 02/08/2009, Política, p. 6

Embates entre PMDB e PSDB previstos para o Conselho de Ética, a partir de amanhã, remetem à crise de 2001, que resultou na renúncia de Jader Barbalho e de Antonio Carlos Magalhães

SIMILARIDADE

Desde que o PSDB representou oficialmente contra Sarney, o PMDB adotou o caminho da retaliação, tendo como alvo principal Arthur Virgílio

Daniel Ferreira/CB/D.A Press - 21/9/05

Iano Andrade/CB/D.A Press - 29/5/07 A estratégia lembra a série de denúncias mútuas entre Jader Barbalho e Antonio Carlos Magalhães. Os dois acabaram sem mandato

Classificado nos anos 90 pelo ex-senador Gilberto Miranda (AM) como a ¿casa dos acordos e da confraria¿, o Senado perdeu este posto logo na virada do século, com a briga entre Jader Barbalho (PMDB-PA) e Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). A guerra durou quase um ano e ninguém em sã consciência na política, logo que aquela crise começou, seria capaz de apostar que os dois grandes líderes iriam destruir os mandatos num abraço de afogados. O mesmo pode ocorrer agora com a crise em que a oposição tenta apear José Sarney (PMDB-AP) da Presidência do Senado, caso o fio do diálogo perdido não seja encontrado nos próximos dias.

Aquela guerra também esquentou num ano pré-eleitoral. No início de 2001, Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) não aceitava entregar a Presidência da Casa a Jader, o todo-poderoso do PMDB do Senado. Naqueles tempos, recordam alguns atores, o antigo PFL (hoje DEM) e os peemedebistas brigavam pelo protagonismo na aliança com o PSDB. ACM renunciou ao mandato em maio. Jader, em outubro, depois de ter se afastado da Presidência do Senado diante de uma avalanche de denúncias.

Assim como Sarney, Jader também esperou que julho ajudasse a esfriar os ânimos. E as previsões falharam tanto no passado quanto agora. Quando Sarney saiu rumo ao recesso, havia uma representação contra ele. Agora, o cenário que o aguarda amanhã, quando o Senado retorna às atividades, inclui 11 ações contra ele no Conselho de Ética (cinco representações e seis denúncias) e outros senadores para lhe fazer companhia nesse caldeirão. Há ainda uma contra o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e vem mais por aí sobre o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio. Tudo terá que ser analisado pelo presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ).

Hoje, Arthur Virgílio é visto pelos peemedebistas como ¿o ACM da vez¿. Desde que o PSDB representou oficialmente contra Sarney, os peemedebistas decidiram tratar do caso como Jader tratou ACM. A cada movimento no sentido do diálogo, o pefelista baiano esticava mais a corda, de forma a manter Jader no centro do ringue. Foi assim até que Jader encontrou um meio de levar ACM ao banco dos réus: o caso da violação do painel eletrônico na sessão que cassou o mandato do senador Luiz Estevão (PMDB-DF). É nesse ponto daquela crise que o PMDB está hoje.

Naqueles tempos, ACM não ouvia ninguém e o fio do diálogo se perdeu. Amanhã, quando os senadores desembarcarem em Brasília, o líder do PTB na Casa, Gim Argello (DF), será um dos que tentará trabalhar para retomar o diálogo. ¿Sou da paz¿, diz, disposto a tentar abrir conversas com a oposição e o PMDB.

O que mais preocupa o clã Sarney, no entanto, é o mesmo que preocupava Jader: os vazamentos das investigações em curso, muitas delas inconclusas, que possam ajudar a pôr mais lenha na fogueira da política e mais pressão pela renúncia.

Da mesma forma que Ramez Tebet foi preparado para assumir a Presidência do Senado quando Jader percebeu que era hora de deixar o cargo para se concentrar na guerra contra ACM e na tentativa de preservar o mandato, há um grupo lançando o nome de Francisco Dornelles para a eventualidade de o PMDB depor as armas. Por enquanto, a hora não chegou. A crise está no ponto de elencar quem mais cairá com Sarney ou de se criar uma confusão tão grande para que, entre tantos feridos, salvem-se todos.

O número 11 Número de representações contra Sarney no Conselho de Ética do Senado

Petistas na berlinda

Os aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), esperavam que o recesso esfriasse a crise, mas os senadores voltam ao trabalho amanhã, após 17 dias de férias, com as denúncias contra o peemedebista ainda vivas na memória do eleitor. O início da semana será de reuniões das bancadas partidárias, a fim de definir uma posição em relação ao assunto. Parlamentares de um partido, em especial, estão na berlinda: o PT. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve chamar o líder petista Aloizio Mercadante (SP), que pediu o afastamento de Sarney, para uma conversa esta semana. Auxiliares do presidente dizem que ele deseja que os petistas se comprometam a não dar o tiro de misericórdia no aliado.

O problema para os petistas é a pressão que eles vêm sofrendo nas ruas. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), por exemplo, candidato à reeleição, conta que falava ao celular depois de se exercitar no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, na sexta-feira quando foi abordado por um eleitor. ¿Eu não votaria mais em você¿, disse, à certa altura, o cidadão, um médico desiludido com a política que não deixou claros os motivos da insatisfação. Além do desgaste que atinge os senadores em geral por causa das denúncias de uso do poder político em benefício de parentes e amigos, os petistas têm que dar explicações sobre o comportamento vacilante do PT e as reiteradas defesas de Sarney feitas pelo presidente Lula. Uma situação desconfortável, especialmente para os nove senadores do partido que tentarão a reeleição em 2010. E agravada pela falta de unidade da bancada formada por 12 petistas.