Título: Preço do álcool eleva IPCA e inflação ameaça furar teto da meta oficial
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 21/04/2011, Economia, p. 20

Alta foi de 0,77% e deve levar índice a fechar abril acima de 0,80%

O álcool foi o grande vilão do IPCA-15, prévia do índice oficial de inflação, que chegou a 0,77% no mês, segundo o IBGE. O resultado - apesar de estar em linha com as previsões do mercado - confirma a piora de cenário. O índice foi 0,17 ponto percentual mais alto que o registrado em março (0,60%) e 0,29 ponto percentual acima do IPCA-15 de abril de 2010 (0,48%). Com isso, o indicador já acumula inflação de 3,14% no ano e 6,44% em doze meses, praticamente furando o teto da meta da taxa de inflação de 2011, estabelecida em 4,5% com margem de tolerância de dois pontos para baixo ou para cima. Ou seja, até 6,5%.

Apesar de alta nos preços em praticamente todos os setores da economia, o IBGE indicou que 0,27 ponto percentual desta inflação foi causada pelo grupo "transportes", com uma aumento de 5,26% nos preços dos combustíveis. Embora a gasolina tenha apresentado alta de 4,28%, o valor do litro do etanol subiu 16,4%. Além disso, o grupo foi influenciado pela elevação dos preços das passagens de ônibus municipais e intermunicipais.

O grupo alimentação continuou registrando forte alta nos preços. De acordo com o IBGE, diversos produtos apresentaram forte pressão na inflação, como cebola (alta de 22,56%), leite pasteurizado (elevação de 1,58%), batata-inglesa (10,05%), feijão carioca (5,99%) e pescados (2,91%). Entretanto, outros grupos também apresentaram elevações, como habitação e despesas pessoais.

Isso deve fazer com que o IPCA do mês completo de abril fique entre 0,80% e 0,85%, fazendo com que o teto da meta da inflação seja atingida ou em abril ou em maio. Apesar disso, Christian Travassos, economista da Fecomércio-Rio, acredita que a inflação deva ceder um pouco no segundo semestre, fazendo com que o IPCA feche o ano em torno do teto da meta oficial, ou seja, 6,50%.

- Acredito que o IPCA fechará o ano no teto da meta. Porém, o problema é nos acostumarmos com uma inflação mais forte. Austeridade fiscal tem que ser aliada do Banco Central nesta batalha - disse.

Já o relatório da Concórdia Corretora estima que o IPCA de abril fique em 0,83%. Apesar da redução que se espera para o preço do álcool ainda em abril, a análise acredita que reduções mais fortes no valor da gasolina serão sentidas apenas em maio.

Os economistas da Rosemberg & Associados indicam que o IPCA-15 continua em patamar não confortável, com alta generalizada dos itens. "Combustíveis em alta, retomada do vestuário e aumento mais expressivo de alimentos evitaram a desaceleração do indicador, que deve permanecer num patamar elevado nos próximos meses", indica o relatório da empresa.

A LCA Consultores foi mais enfática em seu relatório: "Nova pressão da gasolina e aceleração dos gastos com alimentos, vestuário, medicamentos e energia apontam para IPCA de abril em torno de 0,85%", afirma o documento.