Título: Fundos DI e CDBs rendem mais
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 21/04/2011, Economia, p. 19

Mas parte será corroída pela inflação. Impacto em empréstimos será ínfimo

RIO e SÃO PAULO. A terceira elevação seguida da Taxa Selic este ano fará novamente avançar a rentabilidade de aplicações financeiras como Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e fundos DI (pós-fixados), enquanto a caderneta de poupança continua a perder competitividade. Já nos financiamentos o aumento de 0,25 ponto percentual dos juros básicos deverá levar a taxa média de juros cobrada por bancos, financeiras e varejo para 6,8% ao mês (o equivalente a 120,22% em 12 meses), contra os atuais 6,78%. Responsável pela estimativa, a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) diz que o baixo impacto tem a ver com a grande dispersão entre a Selic e as taxas efetivamente cobradas do consumidor.

- Na média da pessoa física, ela está hoje em 119,72% ao ano, o que corresponde a uma variação de mais de 900% em relação à Selic - diz o vice-presidente da entidade, Miguel José de Oliveira.

No financiamento em 12 vezes de uma geladeira que custa R$1.500 à vista, o gasto adicional do consumidor será de apenas R$2,40. A prestação mensal deverá passar de R$175,40 para R$175,60. Numa operação de empréstimo pessoal no valor de mil reais, para ser quitado em 12 meses, a prestação pulará de R$110,80 para R$110,92 - com acréscimo de R$1,44 no final do contrato.

Pela pesquisa da Anefac, a maior taxa é cobrada hoje pelas operadoras de cartão de crédito. Atualmente, o valor médio é de 10,69% ao mês (238,30% em 12 meses), e deverá chegar a 10,71% (239,03% em um ano) com o repasse integral do aumento da Selic. No empréstimo pessoal feito em financeiras, o consumidor deverá pagar em média 9,54% (contra os atuais 9,52%), enquanto no cheque especial a taxa deverá sair de 7,78% para 7,80%.

"A poupança fica cada vez mais feia e tenebrosa", diz professor

No caso das aplicações financeiras, levantamento feito no site www.comdinheiro.com.br mostra que o rendimento de um fundo DI com taxa de administração de 2% sobe dos atuais 9,56% ao ano, com a Selic a 11,75% ao ano, para 9,80% ao ano, com a taxa básica a 12%. O cálculo já considera o valor da taxa de administração, mas não desconta o pagamento do Imposto de Renda, cuja alíquota varia de 15% a 22,5% sobre os ganhos, de acordo com o tempo que o dinheiro permanecer aplicado.

A rentabilidade também avança no caso dos CDBs, ainda que a diferença seja pequena. O CDB - título emitido pelos bancos - paga como remuneração um percentual do CDI, que é a taxa dos empréstimos entre os bancos e acompanha a Selic.

Com a Selic a 11,75%, uma aplicação de mil reais em um CDB com rendimento de 85% do CDI geraria um ganho de R$82,38 ao fim de um ano. O aumento da taxa básica de juros da economia para 12% ao ano significa que, nas mesmas condições, o ganho sobe para R$84,12. Se o mesmo montante de mil reais fosse aplicado em uma caderneta de poupança, o valor ao fim de 12 meses seria de R$1.074,48.

- A poupança fica cada vez mais feia e tenebrosa e ganham as aplicações ligadas à Selic. Mas é um ganho ilusório, por causa da alta da inflação - afirma o professor da FEA/USP Rafael Paschoarelli Veiga, responsável pelo site www.comdinheiro.com.br.

Segundo Veiga, as aplicações atreladas ao CDI protegem da inflação "com uma espingarda", enquanto a poupança seria simular a "um estilingue".

- Estamos vivendo um período peculiar da economia brasileira, com aceleração da inflação. Neste cenário, os juros sobem para enfrentar a alta de preços e as aplicações ligadas às taxas de juros são as mais vantajosas - aponta o professor da Fundação Getulio Vargas Evaldo Alves, alertando que é cada vez mais importante que o investidor fique atento aos custos das aplicações financeiras, como a taxa de administração dos fundos.