Título: Missão da Anistia Internacional faz visita ao Rio
Autor: Costa, Célia
Fonte: O Globo, 26/04/2011, Rio, p. 21

Secretário-geral da organização tem encontro com parentes de vítimas de violência policial na Cidade Alta

O indiano Salil Shetty, secretário-geral da Anistia Internacional, que lidera uma comitiva em visita ao Brasil, reuniu-se ontem com parentes de vítimas da violência, na Cidade Alta, em Cordovil, programado pela Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e Familiares de Vítimas da Violência. Com a ajuda de uma tradutora, Salil Shetty ouviu os relatos de vítimas e parentes e disse que a Anistia Internacional vai lutar pela causa das famílias. A missão, que terá um encontro com a presidente Dilma Rousseff, tem o objetivo de implantar, dentro de alguns meses, um escritório da organização no país, provavelmente em São Paulo.

Entre os relatos, um dos mais comoventes foi o de Marilene Lima de Souza, uma das mães de Acari. Sua filha, Rosana de Souza Santos, de 19 anos, estava entre os 11 jovens mortos em 1990, em Magé. A execução dos jovens ficou conhecida como Chacina de Acari, local onde morava a maioria das vítimas, cujos corpos nunca foram encontrados.

Depois de lutar durante 20 anos pela constatação da morte de sua filha, Marilene de Souza recebeu o atestado de óbito na semana passada. Para surpresa da mãe, o documento relata que a causa da morte é ignorada e, no local do falecimento, está escrito apenas "Chacina de Acari".

Para representante, violência policial é um problema sério

Outra história emocionante foi contada por Luciane da Silva Saldanha, mulher do cabeleireiro Alessandro de Oliveira Nascimento, que ficou com várias sequelas depois de ser baleado na cabeça em junho do ano passado na Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. Na operação da Polícia Militar, foram mortos o frentista Paulo Cardoso Batalha, de 47 anos, e o estudante Deividson Evangelista Pacheco, de 19. Entre os feridos, o menino Paulo Gabriel Santana, que estava no colo do pai, Paulo Batalha. Segundo parentes das vítimas, os policiais, do 22º BPM (Maré), entraram na favela atirando. O crime foi investigado pela Delegacia de Homicídios, as armas dos policiais foram apreendidas, mas, segundo parentes, o caso não foi esclarecido.

Salil Shetty disse considerar a violência policial no Brasil um problema sério. O secretário-geral da Anistia Internacional citou ainda um relatório recebido pelo órgão que revela que 20% dos homicídios são causados por atos violentos de policiais.

- Vemos que a maior parte da vítimas são afrodescendentes, pobres e mulheres. Eles precisam ter voz, mas a maioria não tem visibilidade - disse Salil Shetty.

Além do encontro na Cidade Alta, a agenda da missão da Anistia Internacional no Rio inclui um encontro hoje com o Conselho Popular, que reúne comunidades ameaçadas de remoção forçada.