Título: Produtores rurais bloqueiam acesso ao Porto do Açu. Obras são suspensas
Autor: Balbi, Aloysio; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 26/04/2011, Economia, p. 24

Eles querem negociar desapropriações diretamente com empresa de Eike Batista

CAMPOS e RIO.

O Porto do Açu, operado pela LLX - empresa de logística do grupo de Eike Batista - teve suas obras paradas ontem pelos produtores rurais do 5º Distrito de São João da Barra, no Norte Fluminense. Por volta das 5h, cerca de 300 deles interditaram os quatro acessos ao canteiro de obras do porto por discordarem dos critérios de desapropriação de terras na retroárea do terminal, onde será erguido um polo industrial. Apesar do envio da tropa de choque da Polícia Militar de Campos e de ao menos quatro caminhões de combate a incêndio do Corpo de Bombeiros ao local, até o fim do dia, os manifestantes mantinham o bloqueio com tratores, madeira e pneus queimados. Não houve feridos.

Os acessos interditados são a RJ 196, RJ 240 e as estradas da Concha e de Saco Dantas. Segundo o vice-presidente da Associação dos Produtores Rurais e Imóveis do Município de São João da Barra (Asprim), Rodrigo Santos, o bloqueio poderá ser mantido por cinco dias, o que causaria um prejuízo superior a R$5 milhões à LLX. Os mais de dois mil operários que trabalham no Açu foram dispensados por questões de segurança.

Famílias poderão ser reassentadas em fazenda

Os produtores alegam que serão desapropriadas áreas de agricultura familiar, com tamanho médio de quatro hectares. Ao todo seriam cerca de 1.500 propriedades, segundo eles, que somam 15 mil hectares e garantiriam o sustento de cerca de cinco mil pessoas. A desapropriação está a cargo da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin), órgão do governo estadual, mas os produtores querem negociar diretamente com a LLX, a exemplo do que teria sido feito com as áreas onde hoje está sendo construído o porto.

- Queremos até manter o direito de não vender nossas terras. Compreendemos a importância do projeto, mas não estamos vendo isonomia entre essa desapropriação com as anteriores. Queremos negociar direto com o doutor Otavio Lazcano - afirmou o vice-presidente da Asprim, em referência ao presidente-executivo da LLX.

A LLX entende que as negociações devem ser feitas pela Codin, já que em 2008 a área em questão foi considerada de utilidade pública pelo governador Sérgio Cabral. Naquele ano, Cabral assinou decreto determinando a desapropriação de 70 mil hectares para construção de um polo industrial na região. As desapropriações abrangem dois mil lotes, dos quais apenas 146 em área rural, segundo a Codin. Até agora, pouco menos de 40 lotes foram desapropriados. As famílias que discordarem da indenização terão a opção de serem reassentadas em uma fazenda em São João da Barra.

No protesto, churrasco e contatos com políticos

A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros monitoraram durante todo o dia de ontem as quatro áreas de piquete, mas não houve intervenção. Produtores doaram bois para alimentar os manifestantes. No fim da manhã chegou a ser feito um churrasco.

- Vamos matar um boi por dia para alimentar as pessoas. Vamos ficar aqui até a LLX negociar com a gente. A festa do doutor Eike Batista acabou - gritou o produtor Murilo Sá.

Uma produtora que se deitou no asfalto afirmava que só sairia presa. Santos, da Asprin, disse que, apesar do grande aparato policial, os agricultores estavam dispostos a manter o movimento de forma pacífica. Ontem os diretores da associação fizeram contatos com advogados e com políticos em Brasília. Eles querem o respaldo da comissão dos Direitos Humanos do Congresso. Hoje, está prevista uma reunião entre os produtores e representantes da Codin na sede do órgão em São João da Barra.

Mês passado, operários de uma das empreiteiras do Porto do Açu também paralisaram as obras por um dia por melhores condições de trabalho. O porto começa a operar em 2012.