Título: Menos estudo, mais hipertensão
Autor: Marinho, Antônio; Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 27/04/2011, Ciência, p. 34

Pessoas com menor escolaridade são as mais afetadas no Brasil. Rio tem pior índice

Quanto menor a escolaridade, maior o risco de sofrer pressão alta. É o que mostra pesquisa divulgada ontem pelo Ministério da Saúde, no Dia Nacional de Prevenção à Hipertensão Arterial. O dado contradiz a ideia atual de que a doença é prevalente nas classes favorecidas e, em tese, com mais anos de estudo. Em média, 23,3% dos brasileiros eram hipertensos em 2010. E as mulheres são as mais afetadas. O Rio está mal: tem a maior incidência de doentes em comparação com as outras capitais.

A hipertensão no Brasil atinge 30% dos entrevistados com 0 a 8 anos de escolaridade, contra 15,3% daqueles que disseram ter estudado entre 9 e 11 anos. E a doença ataca 16,2% da população com 12 ou mais anos de ensino regular, segundo o levantamento ¿Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico¿ (Vigitel), realizado em parceria com a USP.

A diferença entre hipertensos aumenta quando a comparação leva em conta o sexo. Pelo menos 34% das entrevistadas com menor escolaridade tinham hipertensão em 2010, contra 13% entre as mulheres com 12 ou mais anos de estudo. Elas têm mais diagnósticos da doença do que os homens: enquanto 20,7% da população masculina sofre do mal, a prevalência entre as mulheres é de 25,5%.

No Rio, 29,2% da população são hipertensos. No caso das mulheres, este índice alcança 33,9%, e nos homens, 23,6%. Na semana passada, outra pesquisa do Ministério da Saúde mostrou que 52% dos moradores do Rio acima de 18 anos estão acima do peso, e 16% obesos. E a gordura em excesso aumenta a pressão no sangue:

¿ A obesidade é maior entre as pessoas com menor escolaridade e faixa de renda. Quem tem menos de oito anos de escolaridade usa menos o tempo de lazer para atividades físicas. A ideia de que hipertensão é doença de classe média e alta não corresponde à realidade ¿ disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, acrescentando que o alto índice no Rio pode estar associado ao maior número de idosos vivendo na cidade.

Em 2006, a doença atingia 21,6% dos brasileiros. Em 2009, este número subiu para 24,4%, caindo para 23,3% no ano passado. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 50% das pessoas acima de 55 anos têm pressão alta. Padilha afirma que os números da Vigitel apontam para estabilidade do número de casos.

¿ Envelhecimento é o principal fator de prevalência de hipertensão. Como as mulheres procuram mais o médico, há mais diagnósticos nesse grupo ¿ diz Padilha.

O levantamento Vigitel ¿ em 27 capitais, com dois mil entrevistados em cada ¿ indica ainda que a população de Palmas (TO) apresenta o menor índice: 13,8%.

Quando a pressão arterial se mantém igual ou superior a 14mmHg por 9mmHg em mais de duas consultas, o paciente sofre de hipertensão, principal causa de infarto, derrame e falência dos rins.

Segundo o ministério, 43.642 brasileiros morreram em 2009 devido às consequências da hipertensão. Este número representa um aumento de 83,98% de óbitos em relação a 2000. Porém, segundo Padilha, tal elevação é motivada principalmente pelo aumento da notificação.

Falta de adesão dificulta tratamento

Os números da hipertensão no Brasil podem ser maiores, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH). Pelo menos 50% das pessoas acima de 65 anos sofrem de pressão alta, mal que atinge 5% das crianças e adolescentes. A doença é responsável por 40% dos infartos, 80% dos acidentes vasculares cerebrais e 25% dos casos de insuficiência renal grave.

O problema é que a pressão alta ¿ desencadeada na maioria dos casos pelo estreitamento das artérias ¿ não causa sintomas no início e, aos poucos, vai comprometendo estruturas vitais, como artérias, cérebro, coração, olhos e rins. Quando os sintomas se manifestam é porque a situação se agravou, e a pessoa pode ter dor cabeça, enjoo, vômito, falta de ar e visão borrada.

A causa do mal é desconhecida, mas se sabe que hereditariedade, excesso de peso, sedentarismo, fumo, consumo de sal e álcool em excesso, além de envelhecimento, contribuem para o problema.

¿ Os números apontam que a hipertensão é um problema grave no Brasil e atinge um número muito maior de brasileiros do que o diabetes, com índice estimado em 7%. Em relação aos países desenvolvidos, o Brasil está na média ¿ diz Eno Lopes, conselheiro da SBH.

A prevalência em mulheres talvez possa ser explicada pelo grande número de mulheres acima do peso, diz o médico:

¿ Obesidade é uma das principais causas de hipertensão ¿ lembra o médico, acrescentando que as dificuldades no tratamento não são a eficácia e os efeitos adversos dos fármacos para baixar a pressão, mas sim a falta de adesão pela maioria dos pacientes. ¿ Em um terço é possível controlar a pressão tomando apenas uma droga ao dia. Há casos de pacientes que precisam de mais de três.