Título: Dilma diz que combate à inflação é prioridade
Autor: Beck, Martha; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 27/04/2011, Economia, p. 25

Presidente afirma que, por sua orientação, política econômica é voltada para controle de preços a curto e longo prazo

DILMA CONVERSA com Mantega (à esquerda), ao lado de Palocci: controle da inflação para país crescer, disse ela

BRASÍLIA. A presidente Dilma Rousseff aproveitou seu primeiro discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão, para dar um recado direto ao mercado: o combate à inflação é uma prioridade para seu governo. Mas isso não significa ceder a pressões dos agentes econômicos nem sacrificar o crescimento do país. Dilma defendeu as ações que vêm sendo adotadas pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda para conter a alta dos preços e fez questão de destacar que elas são orientação sua:

- Eu me preocupo com a questão do crescimento e do controle da inflação simultaneamente. O que garante a estabilidade da inflação no longo prazo é o aumento do investimento e da produtividade. E o que permite que o Brasil cresça no curto prazo é o controle do processo inflacionário que corrói a renda da população. Nesse sentido é que eu orientei as ações da política econômica, tanto para a inflação no curto prazo como para as medidas de longo prazo.

Dilma disse que, desde o primeiro momento, seu governo está comprometido com estas diretrizes:

- Eu tenho um compromisso. Assumi desde o primeiro momento em meu discurso de posse e ao longo da minha campanha: é o controle da inflação. Sem ele não há desenvolvimento sustentável. E eu cumpro meus compromissos. Eu também tenho compromisso com o crescimento econômico e social porque isso é que gera empregos e possibilita a inclusão de milhões e milhões de brasileiros na condição de cidadãos plenos.

Ela também deixou claro que sua equipe econômica, que vem sendo apontada por analistas como leniente com a inflação, não cederá a pressões e adotará novas medidas quando entender que são necessárias. E destacou que o impacto da estratégia de usar medidas fiscais e prudenciais - como cortar gastos públicos e elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o crédito - combinadas com altas mais modestas da Taxa Selic ainda não foi totalmente sentido pelo mercado.

Mantega: mercado interno é "galinha dos ovos de ouro"

Os agentes criticaram fortemente a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar os juros em apenas 0,25 ponto percentual na semana passada e já passaram a projeção de inflação para 2011 para 6,34%, encostando no teto da meta do ano, de 6,5%.

A fala da presidente foi antecedida por explicações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do BC, Alexandre Tombini, sobre os esforços no combate à inflação. Mantega ressaltou que o Brasil "não está mal na foto" da inflação mundial. Ele apresentou dados que mostram que diversos países emergentes também lutam contra a alta dos preços. Na Rússia, por exemplo, a inflação acumulada até março de 2011 é de 9,4% e na Índia, de 8,8%.

O ministro admitiu que a demanda doméstica ainda está muito aquecida:

- É muito importante moderar o crescimento da demanda. Mas é preciso moderar sem matar a galinha dos ovos de ouro que é o mercado interno brasileiro.