Título: Requião diz ser uma vítima de bullying
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 27/04/2011, O País, p. 3

Senador alega que perdeu a "paciência" com jornalista; ANJ e Abert protestam

BRASÍLIA. Da tribuna, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) apresentou ontem os motivos que, segundo alegou, o levaram, na véspera, a tomar um gravador das mãos de um repórter da Rádio Bandeirantes. Ele admitiu que perdeu a paciência com o radialista quando esse tentou vincular as dificuldades financeiras do Paraná com a pensão de R$24.117 que recebe desde que deixou o governo do estado, ano passado. A postura de Requião gerou protestos do sindicato dos jornalistas e de entidades de imprensa:

- Reconheço que perdi a paciência. Ontem fui procurado por um repórter da Rádio Bandeirantes para falar sobre alta da inflação. Depois o repórter resolve vincular a alta da inflação com a pensão que eu recebo por ter sido três vezes governador do Paraná. Respondi uma, respondi duas e na terceira vez irritei-me com a insistência. Entendi que não era mais uma entrevista, tinha doses de provocação, ao estilo "CQC" ou "Pânico". O repórter queria me extorquir resposta, ao modelo desses programas que citei.

Requião acrescentou que optou por ficar com o gravador para evitar que sua entrevista fosse editada pelo jornalista "de forma distorcida", mas não mencionou que apagou a gravação antes de devolver o equipamento ao jornalista Victor Boyadjian. Disse aos colegas senadores que havia decidido publicar a íntegra em seu site. Num dos trechos, o parlamentar ameaça o repórter: "Já pensou em apanhar, rapaz? Já pensou em apanhar? Me dá isso aqui. Não vai desligar mais p... nenhuma. Vou ficar com isso aqui".

Ao deixar o plenário, Requião foi irônico:

- Há uma espécie de bullying da imprensa contra um senador. Isso tem que acabar.

No discurso ele anunciou que vai apresentar à Comissão de Constituição de Justiça projeto para regulamentar o direito de resposta.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Lincoln Maia, protocolou representação contra o senador junto à Secretaria Geral da Mesa do Senado, com a acusação de que ele tentou censurar o trabalho do jornalista. A expectativa de Maia era que o senador pedisse desculpas, o que não aconteceu.

Em nota, o presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Emanuel Soares Carneiro, disse: "É inaceitável que ocupantes de mandatos públicos pretendam impedir o livre exercício da atividade jornalística".

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) considerou lamentável a ação do parlamentar: "Condenável em qualquer cidadão, o impedimento do livro exercício da atividade jornalística foi agravado neste caso pelo fato de ter partido de um homem público, em total desacordo com as mais básicas normas de civilidade e da convivência democrática. O acesso à informação pública e a liberdade de imprensa são direitos de toda sociedade e não podem ser tolhidos por ninguém, muito menos por detentores de cargos eletivos", destacou o vice-presidente da ANJ, Francisco Mesquita Neto, em nota.

oglobo.com.br/pais