Título: O PSDB enquanto isso
Autor: Coimbra, Marcos
Fonte: Correio Braziliense, 05/08/2009, Política, p. 6

De bom para o governo, a única coisa é que ainda falta algum tempo para a eleição. Quem sabe, até lá, as pessoas se esqueçam do que estão vendo e volte a ser possível propor aos eleitores a alternativa entre ¿o passado¿, representado pela candidatura tucana, e o que seria algo diferente (presente? futuro?) simbolizado por Dilma.

Julho terminou e quem mais ganhou com ele foi o PSDB. Mais especialmente, o governador de Minas Gerais. Do outro lado, não foi um mês nada positivo. Governo, presidente, PT e, por extensão, Dilma, quase que só tiveram más notícias.

O epicentro dos problemas pelos quais passaram é, está claro, a crise do Senado. Desde o mensalão, lá se vão quatro anos, nenhuma das pequenas e médias crises políticas seguintes havia atingido o governo de maneira semelhante. Essa de agora é maior e tem consequências mais amplas.

Tudo tem a ver com as próximas eleições e a estratégia que Lula montou para vencê-las. Se não estivessem no horizonte e se fossem outras as escolhas a respeito de como enfrentá-las, as vicissitudes de Sarney teriam tanta importância quanto as de Renan em 2007. Lula seria solidário, lhe daria apoio durante o tempo regulamentar e lavaria as mãos na hora em que sentisse que já tinha feito o bastante. Vida que segue.

Como faltam poucos meses para o começo da eleição, Lula está mais fraco, em que pese sua aprovação estratosférica. O tamanho da aposta que resolveu fazer, sua vontade de mostrar a todos que consegue o que quer, as dificuldades pelas quais ainda passa o país em função da crise, tudo o deixa mais vulnerável. Abandonar Sarney à própria sorte (hipótese que, segundo consta, considera até tentadora), traz riscos que ele prefere não correr: uma CPI da Petrobras que pode escapar do controle montado para que dê em nada, a possibilidade de o Senado ser presidido por um desafeto, uma fratura na possível aliança com o PMDB para alavancar a candidatura de Dilma.

Pode ser que Lula avalie que, como tem muita gordura de popularidade para queimar, não há problema em pagar o preço de seu governo ficar cada vez mais associado aos personagens com os quais hoje se liga umbilicalmente. Pode ser que imagine que o povão não se preocupa com essas coisas e que, na hora H, vote com ele. Pode ser que acredite que o desconforto atual de boa parte do PT seja irrelevante, pois não lhe resta opção a não ser fazer o que ele quer.

De bom para o governo, a única coisa é que ainda falta algum tempo para a eleição. Quem sabe, até lá, as pessoas se esqueçam do que estão vendo e volte a ser possível propor aos eleitores a alternativa entre ¿o passado¿, representado pela candidatura tucana, e o que seria algo diferente (presente? futuro?) simbolizado por Dilma. Isso, que Lula sempre quis e que imagina que seria o fundamento de sua vitória, só faz sentido hoje para quem não sabe o que está acontecendo.

Sem novidades maiores no front administrativo, enfrentando as dificuldades de uma arrecadação em forte retração e com o PAC sempre aquém das metas fixadas, o cenário político sobressai. Deve haver gente no Planalto que lamenta não ter ficado para agora a divulgação do pré-sal, por exemplo.

Enquanto isso, o PSDB vai indo sem sobressaltos a caminho de 2010. Quanta diferença em relação à situação de alguns meses atrás, quando parecia que a disputa Serra x Aécio enfraquecia os dois, enquanto Dilma só se fortalecia.

Contrariando o que disseram então alguns luminares peessedebistas, continuar com duas pré-candidaturas só foi favorável ao partido. Evitou que qualquer um deles se tornasse alvo de adversários e do escrutínio da mídia. Poupou-o da imagem de obsessão eleitoral, que atinge Lula e o PT. Permitiu que pudesse conduzir uma campanha com um mínimo de conteúdo programático, ainda que em intensidade menor que o desejado.

Se isso é verdade, que o PSDB agradeça a Aécio. Foi sua disposição de manter de pé sua pré-candidatura, quando quase ninguém acreditava que fosse viável, que fez com que esse resultado viesse.

Quando se ouvem manifestações como a recente do governador Eduardo Campos, que disse que ¿se o PSDB conseguir enxergar o momento, eu não seguro o PSB, o partido vai de Aécio¿ ou o relato dos contatos de Aécio com partidos como o DEM, o PR, o PDT e o PTB, parece que ele conseguiu mais que se manter vivo na disputa com Serra. Ele se firmou como opção muito concreta.