Título: Rocinha e Maré crescem mais que cidade
Autor: Motta, Cláudio ; Schmidt, Selma
Fonte: O Globo, 30/04/2011, O País, p. 16

Depois de 24 anos morando nos Estados Unidos, em 2008 o guia turístico Renato Josivaldo Rocha da Silva, o Zezinho da Rocinha, decidiu voltar a viver na favela em que nasceu e de lá não quer sair. Zezinho, que ainda não perdeu o sotaque, é uma das 13.018 pessoas que, segundo o IBGE, passaram a morar na comunidade nos últimos dez anos. Embora a Região Administrativa (RA) da Barra seja a que teve o maior aumento percentual de população entre os Censos de 2000 e 2010 (72,54%), mantendo uma tendência, o segundo lugar ocupado pela RA da Rocinha (23,11%) chama a atenção. Os números oficiais informam que a favela passou de 56.338 para 69.356 habitantes.

¿ A Rocinha é minha raiz. Aqui tem de tudo ¿ justifica Zezinho a decisão de morar na comunidade.

`A habitação segue a dinâmica econômica¿

Para o economista Sergio Besserman, ex-presidente do IBGE, as razões do crescimento da Rocinha e da Barra são as mesmas:

¿ A habitação segue a dinâmica econômica de renda e emprego, que caminha para Zona Oeste. As oportunidades estão na Barra e na Zona Sul.

Romualdo Rezende, chefe da unidade estadual do IBGE no Rio, chama a atenção para a localização estratégica da Rocinha, onde os moradores encontram facilidade de transporte tanto para a Zona Oeste como para Zona Sul:

¿ Nessas regiões há uma demanda por mão de obra de faixa de renda mais baixa. Esse é um dos motivos que explicam o crescimento da Rocinha.

Coordenador do projeto Favela da Rocinha.com, Leandro Lima, de 28 anos, tem constatado que o morro continua recebendo novos moradores. Empregado de uma lanchonete na comunidade, Pedro Rafael de Mesquita, de 24 anos, conta que a maioria dos que migram para o local vem do Ceará e da Paraíba. Já a publicitária e produtora de eventos Fabiana Cândido, de 32 anos, revela que ônibus de linhas regulares vindas do Nordeste não param de desembarcar migrantes, todos os meses, na favela. Para ela, além da proximidade do mercado de trabalho, o lugar tem mais atrativos:

¿ Você pode andar de madrugada que vê lojas e barracas abertas. A Rocinha tem bancos,TV a cabo, clínicas de estética, agência de turismo e três ou quatro imobiliárias.

Outra RA que concentra favelas, a da Maré também registrou um crescimento populacional quase duas vezes superior ao da cidade, de acordo com o IBGE: 14.03%, na Maré, contra 7,9% no município, entre 2000 e 2010. Cresceu ainda a população das RAs do Complexo do Alemão (6,33%) e Jacarezinho (3,79%). Na RA da Cidade de Deus foi medida a maior redução da capital: de 3,95% (de 38.016 para 36.515 moradores).

Para o pesquisador Luis Cesar de Queiroz Ribeiro, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur/UFRJ), três fatores explicam o aumento da população das favelas, entre 2000 e 2010:

¿ Nesse período não houve um crescimento econômico forte, com base no trabalho formalizado. Outra razão é a dificuldade de mobilidade urbana, devido a precariedade do sistema de transportes. Mais uma fato é a falta de uma política habitacional urbana até 2010.

Líderes comunitários dizem que população é maior

Entre líderes comunitários, os números do Censo não refletem a realidade das comunidades, que, segundo eles, tem uma população maior. O presidente do Movimento Popular de Favelas, Willian de Oliveira, diz que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) contou 108 mil moradores e a Light instalou 40 mil relógios na Rocinha:

¿ Não contar todos os moradores acaba prejudicando o recebimento de verbas.

Presidente do Instituto Vida Real, da Maré, Sebastião Antônio de Araújo garante que as 16 comunidades do complexo têm mais de 200 mil moradores (pelo Censo são 129.700).

¿ A Maré cresceu muito na vertical. Já tem prédios de cinco andares ¿ diz Sebastião.

O presidente da Associação de Moradores da Cidade de Deus, Alexandre Lima, é mais uma voz a protestar:

¿ A Cidade de Deus tinha 36 mil moradores, quando foi fundada há 43 anos. Hoje, tem entre 120 mil e 150 mil.

Eduardo Pereira Neves, presidente do IBGE, explica que realização do Censo obedeceu três etapas: a cartográfica, a visita aos locais e a entrevista feita a um morador de cada domicílio.

Jacarepaguá atrai empresas e novos moradores

Terceira região da cidade com maior crescimento populacional, com 21,92%, Jacarepaguá passou de 469.682 moradores em 2000 para 572.617 em 2010. Desta forma, ultrapassou Campo Grande (542.084) no número absoluto de habitantes.

Para Aluizio Cunha, diretor-executivo da Associação Comercial e Industrial de Jacarepaguá, o bairro atrai empresas e empreendimentos comerciais, que encontram espaço nos terrenos de antigos sítios:

¿ Surgem condomínios belos, bem estruturados. A indústria e o comércio continuam crescendo. A mão de obra é farta na região. Jacarepaguá é o maior arrecadador de tributos do município e o segundo do estado, perdendo apenas para Duque de Caxias por causa da Reduc.

Desde setembro de 2009 a professora Rachel Moraes trocou a Tijuca por Jacarepaguá. Ela elogia as áreas verdes do bairro e a segurança, mas critica o trânsito caótico.

¿ Procurávamos apartamento há um ano. Quando decidimos por Jacarepaguá, em apenas uma semana fechamos o negócio. Decidimos sair da violência e do tumulto.

Para Paulo Fabbriani, vice-presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi Rio), a expansão de Jacarepaguá, Barra e Guaratiba, cujo crescimento foi de 21,65%, mostra que uma demanda reprimida:

¿ A Copa e os Jogos Olímpicos vão impulsionar o crescimento da região. O desafio é melhorar a mobilidade.