Título: Mais investimentos estrangeiros no país
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 30/04/2011, Economia, p. 37

SÃO PAULO. O Brasil deve receber neste ano 5,8% do fluxo global de investimentos, uma participação alcançada atualmente apenas por economias como a dos Estados Unidos e da China. Em 2005, essa participação foi de apenas 1,5%, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). Luiz Afonso Lima, presidente da entidade, disse que a retração econômica em mercados tradicionais europeus fez os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) migrarem para o Brasil, que apresenta um bom crescimento de demanda.

¿ De 2003 até o ano passado, 29 milhões de pessoas passaram a fazer parte da classe C, segundo dados do IBGE. Nos próximos três anos serão mais 18 milhões, é uma população inteira do Chile ¿ disse Lima.

O volume de investimentos diretos no Brasil, que em 2005 foi de US$15,1 bilhões, chegou em 2010 a R$48,4 bilhões. Nos últimos 12 meses encerrados em março, o fluxo soma US$60,4 bilhões, segundo dados do Banco Central. E a previsão da Sobeet é de ingresso de US$65 bilhões no fechamento do ano. De janeiro a março, já entraram R$17,5 bilhões. Para o presidente da Sobeet, o Brasil se tornou muito interessante depois que a renda da população aumentou.

¿ Além da melhor distribuição, a renda tem aumentado acima da inflação. O Brasil está ganhando destaque. Somos o sétimo mercado consumidor do mundo e vamos passar para quinto em breve. Em tecnologia da informação, automóveis e telefonia móvel já somos o quarto mercado consumidor ¿ afirmou.

Participação da indústria caiu de 52%, em 2004, para 17% este ano

Além do aumento no volume de ingresso de IED no Brasil, o que também surpreende são mudanças qualitativas desses recursos. Há uma crescente participação de projetos de investimento de valor superior a US$500 milhões. A participação destes foi de 44,7% no primeiro trimestre de 2011 (contra 28,1% em 2004). O segundo ponto a mencionar refere-se a mudanças na participação setorial. De acordo com a Sobeet, há uma tendência de redução da participação de setores industriais no total de ingressos de IED no país.

A participação da indústria foi reduzida de 52,8%, em 2004, para 17,8% no primeiro trimestre deste ano. Enquanto isso, os setores de serviços e de commodities aumentaram a sua participação. Lima explicou que o grande problema da indústria é o câmbio desfavorável e a concorrência com os produtos importados.

¿ O que atrapalha a indústria é a falta de perspectiva de rentabilidade. Apenas setores ligados ao petróleo estão atraindo os investidores. O interesse pela indústria ocorreu até a primeira metade da década de 90, quando ocorreram as privatizações nos setores de energia elétrica e comunicações, mas depois se perdeu ¿ afirmou Lima.

O tamanho do mercado brasileiro e o seu crescimento são os fatores que mais se destacam positivamente em comparação à média global. Por outro lado, há fatores de atração do investimento direto abaixo da média internacional, entre eles a eficiência governamental e a qualidade da infra-estrutura.

Redução da carga tributária é importante, diz Fiesp

Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do departamento de Comércio Exterior e Relações Internacionais da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que a decisão do investidor é sempre racional, com base em uma análise de taxa de risco, potencial de crescimento, risco, conjuntura econômica e câmbio favorável às negociações.

¿ Ao analisar a indústria de transformação, o investidor vê a rentabilidade baixa e o risco alto. Isso faz com que os recursos sejam destinados à concessões de infra-estrutura, serviço e recursos naturais (minerais e agrícolas). Infelizmente, esses setores têm melhor atratividade. A indústria, que já foi carro chefe dos investimentos estrangeiros, perdeu o seu dinamismo ¿ disse Giannetti da Fonseca.

Para o diretor da Fiesp, os recursos à indústria só voltarão com força à medida que o governo reduzir os seus gastos dando oportunidade de diminuição da carga tributária.