Título: Governo consegue superávit recorde em março
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 30/04/2011, Economia, p. 42
BRASÍLIA. Com uma economia para pagamento de juros recorde no mês passado, o governo deu sinais de que está cumprindo a promessa de reduzir gastos para ajudar no combate à inflação e na recuperação do humor dos agentes econômicos. Em março, o superávit primário do setor público fechou em R$13,6 bilhões, a melhor cifra para esses meses desde o início da série histórica do Banco Central (BC), em 2001. O bom resultado veio sobretudo do esforço feito pelo governo federal, com saldo primário de R$12,822 bilhões, beneficiado pelo aumento da arrecadação de impostos, impulsionada pelo bom desempenho da economia.
Com isso, especialistas já esperam que, em abril, o superávit primário chegue próximo a R$16 bilhões. E acreditam cada vez mais que será possível cumprir a meta do governo para o ano, de economia de R$117,9 bilhões, ou 3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).
¿ Isso aqui não é de graça (resultado de março). O governo está aproveitando bem esse início para fazer os ajustes e deve cumprir a meta (de superávit primário) cheia. E isso pode se refletir nas expectativas de inflação ¿ afirmou o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, que espera um saldo de R$15,8 bilhões neste mês.
Em março, as despesas do governo recuaram 7,6%
No primeiro trimestre, o saldo primário acumulado está positivo em R$39,262 bilhões, o que corresponde, num fluxo de 12 meses, a 3,23% do PIB, acima da meta. O chefe do departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, ressaltou que o país já conseguiu cumprir, em três meses, um terço do alvo para o ano todo.
Ele argumentou que, em março, as despesas do governo federal recuaram 7,6% sobre março de 2010, já descontando a inflação do período. A queda das despesas frente ao mesmo mês do ano anterior é um movimento que aconteceu apenas seis vezes nos últimos dez anos. Além disso, o superávit primário também veio do aumento de 17,6% da arrecadação de impostos no período, reflexo de uma economia ainda aquecida.
¿ Os resultados são favoráveis e revelam consistência para o cumprimento da meta ¿ afirmou Maciel.
Para o economista-chefe da corretora Prosper, Eduardo Velho, o esforço fiscal maior feito pelo governo neste início de ano deve ajudar a melhorar as expectativas de inflação para 2012. Isso porque, argumenta, com menos gastos, a demanda geral da economia acaba perdendo força, diminuindo a pressão sobre os preços.
Superávit do governo central ficou em R$9,676 bilhões
Velho acredita que o BC ainda vai elevar a Selic, hoje em 12% ao ano, para 12,75% até agosto ¿ ou seja, mais três altas de 0,25 ponto percentual cada. Mas ele não descarta que o movimento pode ser menor, para 12,5% apenas. Hoje, o mercado prevê que o IPCA fique na casa de 5% no período, acima do centro da meta oficial, de 4,5%.
¿ O efeito (do esforço fiscal maior) não é tão no curto prazo para a inflação, mas é contracionista sim e ajuda na convergência da inflação para o próximo ano ¿ afirmou o economista da Prosper.
Em março, o superávit do governo central (Tesouro, BC e INSS) ficou em R$9,676 bilhões, enquanto o dos governos regionais (estados e municípios) foi de R$4,436 bilhões, também recorde para esses meses. No período, por outro lado, as empresas estatais registraram déficit primário de R$511 milhões.
O pagamento com juros no mês passado somou R$20,549 bilhões, o que acabou gerando um déficit nominal ¿ receita menos despesas, incluindo o pagamento de juros ¿ de R$6,949 bilhões. Em fevereiro, o rombo havia sido de R$11,202 bilhões.
O BC informou ainda que a dívida líquida do setor público chegou a R$1,507 trilhão em março, o que corresponde a 39,9% do PIB e, para abril, prevê que essa relação se repetirá. Isso porque, apesar da expectativa de um superávit primário maior, pesará contra a forte valorização cambial ¿ de cerca de 3,5% ¿, que impacta nos ativos das reservas internacionais brasileiras e que fazem parte da dívida líquida.