Título: Otimismo de empresários é maior a curto prazo
Autor: Bôas, Bruno Villas; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 29/04/2011, Economia, p. 31

Pesquisa divulgada no Fórum Econômico mostra que mão de obra, infraestrutura e inflação no futuro preocupam

Bruno Villas Bôas, Danielle Nogueira, Clarice Spitz e Bruno Rosa

Os principais executivos brasileiros estão "muito confiantes" com as perspectivas de negócios para o Brasil este ano, mas temem que gargalos como excesso de regulação, falta de mão de obra e déficit de infraestrutura atrapalhem o crescimento do país no médio prazo. Um estudo da consultoria pwc (Price) divulgado ontem no Fórum Econômico Mundial para América Latina, no Rio, mostrou que 58% dos executivos brasileiros acreditam no crescimento dos negócios este ano, ante a uma média mundial de 48%. Mas quando o prazo avança para os próximos três anos, 50% dos empresários nacionais acreditam em crescimento, contra 51% dos estrangeiros.

A inflação também está no rol das preocupações de executivos e representantes de organismos multilaterais. O temor é que a alta de preços em alguns países latino-americanos retarde a inclusão social dos mais pobres.

A deficiência na área de infraestrutura foi um dos pontos mais comentados no Fórum. Em uma mesa dedicada ao tema, foi unânime a percepção de que um dos pontos comuns entre as nações latino-americanas é justamente a falta de investimentos na área no ritmo adequado ao crescimento de suas economias. Uma das explicações para esse descompasso, na avaliação do presidente da Odebrecht Participações e Investimentos, Felipe Jens, é que há limitação de recursos para financiamento.

- O mercado de capitais aparece como alternativa, mas ele ainda é pequeno no Brasil. Há disposição da iniciativa privada em investir, mas é preciso buscar alternativas de financiamento para os projetos disse.

O presidente da Bunge e ex-ministro da Casa Civil Pedro Parente lembrou que o gasto do Brasil com logística para soja atualmente é quatro vezes superior ao dos Estados Unidos. Enquanto aqui gasta-se US$84 por tonelada de soja, nos EUA, o custo fica em apenas US$21.

A falta de mão de obra qualificada também é apontada como um ponto limitador para os projetos de infraestrutura e, consequentemente, para o crescimento do país. Pela primeira vez, a questão aparece entre os três principais problemas para os executivos ouvidos pela Price. É o segundo gargalo mais preocupante no médio prazo, atrás de excesso de regulação. O levantamento da consultoria mostra que 76% dos executivos veem limitação de profissionais capacitados. O sócio da Price Henrique Luz explica que o problema está na quantidade de profissionais com boa formação no mercado, o que obriga empresas a adotarem políticas de retenção dos quadros.

- Diria que a educação é igualmente, senão ainda mais preocupante que os problemas de infraestrutura. Sem mão de obra qualificada um país não cresce - afirmou o presidente da GE no Brasil, João Geraldo Ferreira, também presente no Fórum.

- Temos boas e más notícias. A má é que temos que investir mais em infraestrutura. A boa é que, agora, temos capacidade de investir mais. A estabilidade econômica deu previsibilidade ao Brasil e as regras do jogo são claras para os investidores - afirmou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

A estabilização da economia, porém, não erradicou certas ameaças macroeconômicas. Os entrevistados brasileiros para a pesquisa da Price apontaram volatilidade do câmbio (50%) e a aceleração da inflação (20%, atrás apenas da região asiática) como pontos preocupantes. O dólar fraco também é motivo de preocupação para empresas, como a Embraer. O presidente Frederico Curado afirmou que a empresa vem sofrendo efeitos do real apreciado frente ao dólar.

- O câmbio afeta qualquer exportador e qualquer indústria que tenha competição de importação. Mas temos que ter a expectativa de que esse é um problema conjuntural, não é estrutural. Não depende só do Brasil. Enquanto os Estados Unidos tiverem essa política monetária para recuperar sua economia, isso vai afetar o mundo inteiro - disse.

Já a vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina, Pamela Cox, ressaltou a preocupação com o impacto da inflação na redução da pobreza. Ela, que mediou o painel sobre Produção Sustentável de Alimentos, não comentou as recentes medidas adotadas pelo governo brasileiro para combater a alta de preços, mas disse que o governo tem feito o dever de casa e tem sido bem-sucedido aliando a política de metas de inflação e a adoção de políticas sociais, como o Bolsa Família.

- O Brasil fez excelentes progresso na última década reduzindo desigualdade e com o crescimento aliado a programas sociais, como Bolsa Família. O desafio é manter o motor do crescimento, mas sem causar danos à economia, para tirar as pessoas da pobreza - disse.