Título: Lucros e perdas
Autor: Motta, Nelson
Fonte: O Globo, 29/04/2011, Opinião, p. 7

Por ineficiência e submissão a pressões politicas, começam a ser substituídos vários diretores da Caixa Econômica e do Banco do Brasil nomeados pelo sindicalismo petista na era Lula. O aparelhamento partidário levou militantes bancários despreparados a inúmeras diretorias nos bancos públicos e, mesmo que não roubem para si ou para o partido, deram pesados prejuízos às instituições e aos seus acionistas privados e públicos - os contribuintes. A incompetência honesta dá tanto prejuízo quanto a ladroagem.

Claro que esses soviéticos não poderiam entender nada do negócio dos bancos, porque sempre os odiaram como instituição-base do capitalismo e da exploração do homem. Sua missão era lutar contra o patrão ganancioso, para melhorar direitos, salários e condições de trabalho da categoria. Muito justo, mas o que a militância sindical ensina sobre administração bancária, créditos, spreads, investimentos, juros, taxas, mercado, tecnologia?

O Banco do Brasil e a Caixa concorrem com os bancos privados em busca de clientes num mercado ultra competitivo e, para conquistá-los, não bastam militância, conchavos e capacidade de mobilização, é preciso competência e trabalho. Justamente o que falta a sindicalistas que ignoram a operação de bancos no livre mercado, porque passaram a vida combatendo-os e sonhando com o seu fim no "grande amanhã" socialista.

Para esse pessoal, o grande amanhã já chegou. Mas os bancos continuam exibindo lucros assombrosos, e são mais odiados do que nunca. Como sempre, a pelegada vai gritar "é preconceito contra os trabalhadores!" e fingir que não entende as evidências dos desastres que provocam pessoas não qualificadas em diretorias de um negócio que ignoram e, por ideologia, sempre combateram.

"O que é o roubo de um banco comparado à fundação de um banco?", a pergunta de Bertold Brecht era uma palavra de ordem da esquerda nos anos 70. Ainda é?

Esses bancários que viraram banqueiros de araque, com capital alheio, simbolizam uma das mais nocivas distorções da era Lula que o novo governo começa a desmontar, em busca de eficiência e produtividade.

NELSON MOTTA é jornalista.