Título: Hidrelétrica ganha prevenção contra terremoto
Autor: Tavares, Mônica; Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 01/05/2011, Economia, p. 41
Eletronorte investe R$800 milhões para instalar sismógrafos em usinas para reduzir efeitos de acidentes
BRASÍLIA. Mais frequentes do que se imagina no Brasil, os terremotos - de grande e pequena magnitude - terão de ser incluídos nas contas das novas hidrelétricas do país. Preocupação que há até pouco tempo não era prioridade para muitas empresas, a instalação de sismógrafos e outros equipamentos de segurança e a previsão de ações para mitigar efeitos de acidentes provocados por sismos vão constar da nova lei de barragens que está prestes a ser regulamentada. O investimento será bilionário. Só a Eletronorte, pioneira, está desembolsando, neste momento, R$800 milhões em equipamentos de monitoramento nas usinas Coaracy Nunes (AP) e Curuá-Una (PA).
As geradoras devem estar preparadas não só para os terremotos naturais, mas, sobretudo, para aqueles pelos quais elas próprias são responsáveis. Os chamados terremotos induzidos, ocasionados pela pressão que a imensa quantidade de água dos reservatórios exerce sobre o solo, não são raros e podem oferecer riscos à população local.
Primeiro equipamento foi instalado em Tucuruí
O primeiro equipamento em usinas no país foi instalado em 1979, pela Eletronorte, em Tucuruí (PA). Em junho de 2007, um tremor de 3,8 pontos na escala Richter durou apenas 10 segundos, mas foi o suficiente para assustar os moradores da região. O sismógrafo estava em Brasília passando por manutenção. Felizmente, não houve feridos e os prejuízos se limitaram a trincas nas casas. De lá para cá, a área vem registrando abalos, como o de 3,6 pontos em 1998.
O monitoramento de sismos entrou na agenda de especialistas em energia do mundo inteiro após a tragédia do Japão. A tsunami provocada pelo terremoto japonês levou a um vazamento de material radioativo na usina nuclear de Fukushima.
No Brasil, a preocupação das autoridades é que vários terremotos de menor proporção possam, ao longo do tempo, causar fissuras nas barragens de concreto, provocando até rompimento. Daí a necessidade de se acompanhar milimetricamente todos os movimentos geológicos e garantir que, ao primeiro sinal de danos, reparos sejam feitos imediatamente.
De seu escritório em Brasília, o responsável pela segurança das hidrelétricas da Eletronorte, Gilson Machado da Luz, monitora em tempo real tudo o que acontece em Tucuruí, a 1.600 km da sua mesa. Ele identifica até a movimentação de caminhões na estrada próxima à usina, tamanha a sensibilidade dos novos equipamentos instalados na região. Estima-se que, se o reservatório de Tucuruí estourar, cerca de 110 mil pessoas poderiam ser atingidas em meia hora.
- Nunca tivemos acidentes graves. Mas as usinas têm que estar preparadas. Afinal, terremotos são imprevisíveis.
O chefe do Observatório Sismológico de Brasília, Lucas Barros, passa o dia observando engenhocas que monitoram a atividade embaixo da terra. Ele conta que Minas Gerais é uma das principais áreas de atividade do país e lembra que o risco aumenta porque são regiões de alta densidade demográfica - embora a manutenção e o monitoramento da Cemig sejam rigorosos. O estado também concentra grande quantidade de hidrelétricas. Algumas precisam ser acompanhadas com lupa, como é o caso de Nova Ponte e Carmo do Cajuru.
No Nordeste, segundo o especialista, também há bastante sismos, bem como em Mato Grosso. Ninguém sabia sobre a existência de tremores na Amazônia até a instalação de equipamentos na parte Norte do Brasil a partir do fim dos anos 70.
- As estações sismográficas de Tucuruí, Balbina (AM), Samuel (RO), Altamira (PA) detectaram sismos na Amazônia que ninguém achava existia - disse Lucas.
O Norte também reflete tremores ocorridos nos Andes. A Eletronorte, segundo Lucas, até automatizou o sistema de medição por pêndulos para aperfeiçoar o controle:
- E os abalos dos Andes de 2007 e 2010 foram registrados nestes instrumentos que eram manuais e passaram a ser automatizados. Eles fizeram a barragem balançar.
Lucas afirma que, no Brasil, não são comuns os terremotos de magnitude mais alta, mas diz que, dependendo da localização do epicentro, podem fazer mais ou menos estragos. Por isso, diz o especialista, é importante que o país esteja preparado para enfrentar os temores.
Novas usinas e até pequenas centrais terão proteção
Em Itaipu, há seis estações sismográficas. As que estão em construção também investiram. Em parceria, Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, implantaram em 2010 a Estação de Observação Sismológica da Energia Sustentável do Brasil (ESBR). Belo Monte, no Pará, terá três estações para medir tremores.
Porém, boa parte das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) não contam com qualquer tipo de mecanismo capaz de acusar sismos. Prova disso são os vários acidentes contabilizados pelo país em barragens de terra, algumas levadas pela água. Por esta razão, no fim do ano passado o governo aprovou um novo conjunto de normas de segurança para as usinas. As obrigações deverão ser cumpridas em até dois anos após a publicação da sua regulamentação no Diário Oficial.