Título: Assassinato de adolescentes no Nordeste sobe 33,7% em dois anos
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 01/05/2011, O País, p. 4
Região é a que tem maior índice de homicídios de jovens entre 12 e 18 anos
RECIFE. Com crescimento econômico acelerado, mas sem ter ainda se libertado das mazelas provocadas pelas suas constantes secas, o Nordeste enfrenta agora mais um flagelo social, desta vez, urbano: a matança de adolescentes. Em dois anos, aumentou em 33,7% o índice de jovens com idades entre 12 e 18 anos que morreram assassinados. Trata-se da maior expansão registrada entre as cinco principais áreas do país. É o que mostra um recorte feito nos nove estados pelo GLOBO, a partir da pesquisa "Homicídios na adolescência no Brasil", divulgada pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
De acordo com o estudo, se a situação persistir, serão 8.210 jovens mortos no período de seis anos. Isso levando-se em conta apenas os municípios nordestinos com população superior a 100 mil habitantes.
Caso esses números se confirmem, eles equivalem a quase 25% do total de homicídios contra adolescentes previstos para o país entre 2007 e 2013, quando se espera que 33 mil sejam assassinados, a partir de projeções feitas com base na realidade observada nas 269 maiores cidades brasileiras, entre 2005 e 2007. Nelas, a investigação indicou que para cada grupo de mil adolescentes de 12 anos, 2,67 perderão a vida antes de completar 19.
No Nordeste, o crescimento do IHA (Índice de Homicídios na Adolescência) é superior ao dobro do verificado no Norte, segunda região nesse ranking macabro, com expansão de 12,1% no período. Em seguida, vêm Sul (aumento de 15,5%) e Centro-Oeste (7,5%). O Sudeste foi a única região com redução (2,42%). Isso pelas quedas sistemáticas em São Paulo e no Rio, segundo a análise.
O IHA é o número de jovens que morrem por homicídios antes de completar 19 anos, para cada grupo de mil adolescentes de 12 anos. Esse indicador chega a 2,59 no Sul, 2,42 no Sudeste, 2,41 no Centro-Oeste e 2,26 no Norte, contra 3,53 do Nordeste, onde em algumas cidades atinge oito pontos, caso de Olinda, e chega a 7,3 em Recife, o maior IHA entre as capitais brasileiras.
- O Nordeste vem apresentando as maiores taxas de IHA. Mesmo em 2005, quando a região teve seu menor índice (2,64 jovens mortos por cada grupo de mil), esse foi o mais elevado para qualquer um dos índices calculados nas demais regiões todos os anos. Além disso, a região teve o maior crescimento percentual de IHA entre 2005 e 2007, cerca de 34% - diz Eduardo Ribeiro, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj.
Ele destaca que embora em alguns estados os números comecem a decrescer devido a intervenções oficiais, eles ainda são altos. E encontram-se em expansão no Ceará e na Bahia. Pernambuco é o único estado que aparece quatro vezes no mapa do IHA entre os municípios com mais de 200 mil habitantes.
A situação é tão grave no Nordeste que em abril um seminário foi feito em Recife pela Unicef e pelo Centro Dom Hélder Câmara de Estudos e Ação Social (Cendhec) para estudar meios de conter a violência crescente. Para o coordenador da Unicef em Recife, Salvador Soler, há subnotificação dos casos, pois as pessoas temem represálias.
Para o consultor do Cendhec Renato Pinto, o estudo da Uerj surpreendeu:
- Esperávamos números altos no Nordeste, mas não que o IHA e o seu crescimento fossem os maiores do país, puxado naturalmente pelas capitais violentas. Para nós, a triste liderança realmente foi surpresa. Se nada for feito em Recife, por exemplo, só entre 2007 e 2013, teremos 1.351 pessoas assassinadas, na faixa etária de 12 a 18 anos.