Título: Palocci, cada vez mais afinado com Dilma
Autor: Damé, Luiza; Gois, Chico de; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/05/2011, O País, p. 14

Chefe da Casa Civil se consolida como nome de confiança da presidente e conduz negociações com partidos

BRASÍLIA. Representante mais forte do PT no governo Dilma Rousseff, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, está longe de ser a voz do seu partido no Palácio do Planalto. A proximidade que consolidou com a chefe nos últimos meses faz de Palocci o eco da voz da própria Dilma pela Esplanada dos Ministérios. Um pedido ou uma cobrança dele significa um pedido ou cobrança de Dilma. A diferença entre a presidente e seu imediato está no tom: enquanto Dilma costuma ser mais enfática, até dura, Palocci é mais leve, relatam interlocutores.

Discreto, avesso a entrevistas e à exposição pública, Palocci é chamado por colegas de governo de "primeiro-ministro". A classificação é mais elogiosa que crítica. Nenhum outro ministro tem tanto acesso à presidente quanto ele. Pelo que se comenta no Planalto e em outros ministérios, Dilma não vive mais sem Palocci. Chama-o o dia inteiro a seu gabinete, dificultando o cumprimento da agenda dele próprio, o que irrita aliados.

O ministro não passa 15 dias sem falar com o ex-presidente Lula. O principal aliado do governo, o PMDB, é só elogios a Palocci. Os demais ministros não têm do que se queixar. A reclamação maior parte de colegas do PT, principalmente os do chamado baixo clero, que, dizem, não conseguem sequer falar com Palocci. O ministro, já chamado carinhosamente por Dilma de um dos três porquinhos - os outros dois são o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ex-presidente do PT José Eduardo Dutra -, ganhou espaço na coordenação de campanha da petista e, depois, assento no lugar mais reservado do Ministério pelas mãos de Lula.

A princípio, Dilma tinha resistência a nomeá-lo para posto tão estratégico. Temia que ele a eclipsasse, dado seu trânsito entre políticos e empresários. Mas, atualmente, Dilma demonstra total confiança no subordinado.

- Aos poucos, Palocci ganhou a confiança de Dilma. Na transição, havia resistência dela a nomeá-lo para a Casa Civil. Mas hoje ela reconhece que foi uma escolha acertada. Palocci entendeu rapidamente qual é seu papel no governo e, diferentemente do que se dizia, não faz sombra a Dilma - relata um interlocutor próximo à presidente.

"Ele diz não, mas com respeito"

Segundo esse ministro, a força de Palocci no governo reside especialmente no fato de ele ser disciplinado: leva todos os assuntos, problemas e sugestões para Dilma tomar as decisões. Palocci não toma qualquer iniciativa sem antes consultá-la:

- Ele foi o que aprendeu mais rápido. Nesse governo, ninguém faz nada sem passar pela Dilma. Se fizer, leva bronca. Ela é a gestora.

Palocci tem, ainda, conduzido as negociações de cargos. Ele apresenta as demandas para Dilma, que faz vetos constantemente, o que tem atrasado o loteamento político do segundo escalão. A política de conta-gotas para nomeações é de interesse da presidente. Mas ela não diz isso. Palocci faz. O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), derrete-se em elogios ao "primeiro-ministro".

- Ele está dando grande contribuição ao governo Dilma. Ele ouve as demandas, as reclamações, até as injustas, com sensibilidade que surpreende. A presidente fez a escolha certa. Ele funciona como um filtro no relacionamento político. Ele diz não, mas com respeito. E resolve, não empurra com a barriga - afirma o líder, lembrando que, na composição do Ministério, quando o PMDB queria a pasta da Integração Nacional, Palocci demoveu o aliado com um argumento que o convenceu.

Palocci tem sido responsável por unificar a linguagem do governo. Tem papel importante no debate do Código Florestal. Dilma delegou a ele a tarefa de obter o consenso entre a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o ministro da Agricultura, Wagner Rossi.

Apesar de ter posição contrária, Dilma costuma ouvi-lo sobre temas econômicos. Quando os dois eram ministros do governo Lula, chegaram a divergir publicamente sobre a condução da economia - Palocci defende uma linha fiscalista, enquanto Dilma é desenvolvimentista por convicção. De acordo com um interlocutor, porém, o ministro da Casa Civil não participa das reuniões que Dilma faz com o titular da Fazenda, Guido Mantega, ou com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

A assessoria do ministro refuta a ideia de que Palocci seja considerado uma espécie de primeiro-ministro. Diz que, pelo trabalho que executa, sempre tem mais contato com a presidente - e que assim é com todos os ministros da Casa Civil.