Título: Meteorologia de precisão
Autor: Bastos, Isabela
Fonte: O Globo, 01/05/2011, Rio, p. 18

Prefeitura promete previsão do tempo com antecedência de 48 horas e acerto de 80%

Com longo histórico de enchentes e escorregamentos de terra, provocados por fortes temporais, o Rio deverá ter, a partir de junho, um sistema de previsão do tempo e de probabilidades de inundação de alta precisão. Um novo programa de computador, que combina em modelos matemáticos uma extensa base de dados ¿ como topografia, cobertura vegetal, taxa de urbanização, declividade de encostas, mapeamento de áreas de risco, redes de drenagem, imagens de radares e satélite e precipitação registrada por pluviômetros ¿, permitirá que a cidade possa detalhar previsões de tempo para espaços a partir de um quilômetro quadrado. Já a previsão de inundação poderá calcular a possibilidade de enchentes até numa única rua.

A promessa é que o programa, chamado de Previsão Meteorológica de Alta Resolução (PMAR), possa fazer diagnósticos de incidentes meteorológicos com até 48 horas de antecedência e até 80% de acerto. O objetivo, segundo a prefeitura, é dar tempo de planejamento e reação ao poder público a fim de minimizar os transtornos causados pelas chuvas fortes, como a que mergulhou a Grande Tijuca num mar de lama, na última segunda-feira.

¿ Melhoramos nossa capacidade de resposta a desastres climáticos, mudando rotinas de órgãos e aumentando equipes de plantão 24 horas. Mas isso é uma obrigação. Queremos ter capacidade de predição para poder planejar e agir, para que um incidente climático não vire um desastre ¿ afirma o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osório.

Programa entra em operação em junho

Previsto para entrar em operação em junho, o programa trabalhará com dois modelos matemáticos. O primeiro, dedicado à previsão do tempo, poderá calcular a quantidade de chuva esperada, umidade, vento e temperatura num espaço determinado. O outro poderá simular, a partir da informação da quantidade de água esperada em uma chuva, quais pontos da cidade estarão vulneráveis a cheias. O módulo de previsão do tempo terá resolução para prever o que vai acontecer no espaço de um quilômetro quadrado, permitindo até mesmo que os 1.224 quilômetros quadrados totais da cidade sejam esquadrinhados, se a prefeitura achar necessário.

Segundo o secretário, inicialmente o programa será usado, contudo, para fazer previsão do tempo para as quatro bacias hidrográficas da cidade, que tem uma divisão espacial semelhante à das áreas de planejamento da prefeitura. Centro e Zona Norte, incluindo a Grande Tijuca, partilham uma das bacias hidrográficas. As demais coincidem com a divisão geográfica das zonas Oeste e Sul, a Barra e a Baixada de Jacarepaguá.

¿ A previsão será feita inicialmente por regiões porque, apesar de estarem na mesma cidade, temos pequenas modificações de clima de uma área para outra ¿ explicou Osório.

Já o módulo de inundação será usado inicialmente para monitorar 232 pontos históricos de alagamento da cidade, entre eles a Praça da Bandeira, a Rua Jardim Botânico, a Avenida Brasil e o entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas, levando em conta dados como quantidade de chuva, topografia da cidade e qualidade do solo, a tecnologia poderá ser refinada para, com o tempo, calcular possibilidades de inundação de ruas.

¿ A gente quer prever onde poderá inundar, para que o poder público chegue antes ao local, verifique a rede de drenagem, faça desvios de tráfego e oriente a população ¿ explica Pedro de Almeida, diretor do programa Cidades Inteligentes da IBM, empresa que desenvolve o projeto.

Se já estivesse disponível, a tecnologia poderia, segundo a prefeitura, fazer previsões mais acertadas para o temporal da segunda-feira passada, quando a mudança de comportamento da frente fria, num espaço de 30 minutos, pegou as autoridades no contrapé, atrasando o atendimento à população e deixando centenas de pessoas à mercê de alagamentos.

Segundo Osório, o PMAR não impediria a inundação da região, uma vez que a solução do problema da Grande Tijuca depende de obras orçadas em R$292 milhões. Mas permitiria à prefeitura tomar medidas antes que o caos se instalasse.

De acordo com o pesquisador da IBM responsável pelo desenvolvimento do programa, Ulisses Mello, o PMAR será alimentado pelo banco de dados de incidentes atmosféricos que já ocorreram no Rio para que as previsões fiquem mais confiáveis. O programa será rodado pelo Centro de Operações Rio, em regime de teste, de junho a outubro. Tudo para que esteja maduro para ser usado efetivamente já no próximo verão.

Ainda de acordo com o pesquisador, o programa explora o conceito ¿real time is too late¿ (o tempo real é tarde demais). Os modelos matemáticos, diz o especialista, aprendem com eventos passados e tornam as previsões a cada dia mais fidedignas.

oglobo.com.br/rio