Título: Mensagens de paz
Autor: Fleck, Isabel
Fonte: Correio Braziliense, 05/08/2009, Mundo, p. 16

General americano troca informações com o Brasil sobre bases na Colômbia. Lula espera visita de Álvaro Uribe

O assessor de Segurança Nacional de Barack Obama, Jim Jones, deixa o CCBB após reunião com Marco Aurélio Garcia: discussões amenas

Um dia depois de ter conversado com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, o assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, ouviu ontem do assessor de Segurança Nacional de Barack Obama, general James Jones, a versão oficial americana sobre as bases que serão usadas pelos Estados Unidos na Colômbia. Para Garcia, ficou evidente o reconhecimento de Washington de ¿que o assunto foi mal encaminhado¿, e de que o acordo militar entre os dois países ¿não está fechado¿. O governo brasileiro, porém, espera conhecer mais detalhes sobre o acordo amanhã, quando Lula receberá o colega colombiano, Álvaro Uribe. O presidente pedirá ao visitante que compareça à cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul), na próxima segunda-feira, em Quito.

¿Acho que houve um reconhecimento (¿) de que talvez tivesse sido mais oportuno, da parte dos governos americano e colombiano, um esclarecimento prévio que pudesse dissipar todas as dúvidas sobre a natureza dessas bases e seu alcance¿, disse Garcia ao fim do encontro com o general, em quem percebeu um nível ¿muito grande¿ de ¿abertura¿. Jones reiterou que não aumentará o efetivo americano no país vizinho e que as bases ficarão sob controle colombiano, mas Garcia deixou transparecer que restam focos de desconfiança. ¿O general procurou circunscrevê-las (as bases) a ações de caráter comunitário, de combate ao narcotráfico, mas, como vocês sabem, cachorro que foi mordido por cobra tem medo até de linguiça¿, comparou.

O assessor da presidência considera que, embora não acredite que o acordo EUA-Colômbia ameace a soberania do Brasil, o estabelecimento de bases ¿cujo alcance e objetivos não estão muito claros¿, perto da fronteira com a Amazônia, não é positivo. Em breve declaração à imprensa, Jones disse que, após sua visita, o governo brasileiro terá ¿uma boa explicação e um resultado satisfatório¿. ¿(Isso) não vai interferir, de forma alguma, na nossa amizade, cooperação e nos assuntos de interesse mútuo¿, afirmou o general. O general americano se reuniu também com os ministros da Defesa, Nelson Jobim, de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Casa Civil, Dilma Roussef, além do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Hoje, será recebido pelo chanceler Celso Amorim.

Em aberto

Para Garcia, o fato de Uribe ter a ¿sensibilidade¿ de viajar pela região para dar explicações ¿ ele começou ontem uma série de visitas ao Peru, Bolívia, Brasil, Chile e Argentina ¿ e a abertura do próprio general Jones durante o encontro mostram que a decisão sobre as bases ¿não está tão tomada assim¿. ¿Imagino que há uma preocupação, da parte do governo americano, em relação aos países amigos, em saber qual é a opinião¿, disse o assessor, que aproveitou o encontro para reforçar a posição brasileira sobre a questão de Honduras(1).

Novas informações sobre o acordo entre Washington e Bogotá, porém, indicam que a presença militar americana aumentará. O comandante das Forças Militares da Colômbia, general Freddy Padilla, afirmou ontem que serão sete ¿ e não apenas três, como se informou inicialmente ¿ as bases às quais os EUA terão acesso operacional. O anúncio foi feito durante encontro com altos oficiais de 10 países, inclusive o chefe do Comando Sul norte-americano, general Douglas Fraser. Venezuela e Equador, que acusam o país vizinho de ameaçar a segurança regional, não estavam presentes. Padilla insistiu em que o alvo da cooperação são ¿as atividades ilegais das organizações terroristas e dos narcotraficantes¿.

A revelação do comandante militar colombiano tende a alimentar as desconfianças dos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Rafael Correa, do Equador, ambos com as relações bilaterais congeladas com Bogotá. Desde as primeiras notícias sobre o acordo militar, Chávez denunciou uma ¿operação de cerco¿ contra seu país e uma ameaça potencial de ¿invasão gringa¿. Na configuração detalhada pelo general Padilla, a Colômbia abrirá para os EUA as bases aéreas de Malambo (norte), Palanquero (centro) e Apiay (leste); as bases navais de Cartagena (Caribe) e Bahía Málaga (Pacífico); e as bases terrestres de Tolemaida (centro) e Larandia (sul). A última é vizinha de Tres Esquinas, base-piloto do Plano Colômbia, onde militares americanos operam radares desde 2000.

1 - RECEPÇÃO À ALTURA O assessor para assuntos internacionais do governo brasileiro, Marco Aurélio Garcia, confirmou ontem a vinda de Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, ao Brasil no próximo dia 12. Segundo Garcia, o hondurenho será recebido como chefe de Estado. Na conversa sobre as bases na Colômbia com o general norte-americano James Jones, Garcia pediu uma ¿atitude mais firme¿ da Casa Branca nos esforços pela restituição de Zelaya ao poder.