Título: Bovespa cai 1% com dados negativos sobre as economias de EUA e China
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 03/05/2011, Economia, p. 20

Vale e siderúrgicas puxam as perdas. Dólar fecha cotado a R$1,576

Mais uma vez descolada dos mercados internacionais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perdeu ontem o patamar de 66 mil pontos, com investidores cautelosos sobre indicadores negativos divulgados nos Estados Unidos e na China. A morte do líder terrorista Osama bin Laden também trouxe maior volatilidade aos negócios. O Ibovespa, principal índice do mercado, recuou 1,01%, aos 65.462 pontos. Já o dólar comercial avançou 0,19%, a R$1,576, em um dia de poucos negócios.

- O Ibovespa continua descolando por uma série de fatores, que passam por inflação crescente, saída dos investidores estrangeiros, a ingerência do governo sobre Vale e Petrobras, por exemplo - afirma Eduardo Oliveira, operador da Um Investimentos.

Pela manhã, o mercado brasileiro ensaiou uma alta refletindo o impacto positivo da morte de bin Laden sobre as bolsas mundiais. O Ibovespa chegou a subir 0,56%, aos 66.500 pontos, na abertura. Mas investidores logo voltaram o foco para dados da economia americana o movimento de alta perdeu força.

- Circulou a ideia de que a morte de bin Laden retiraria um pouco do risco associado ao Oriente Médio - explicou Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. - Mas essa percepção foi sendo ofuscada, até por conta do alto risco de vingança da al-Qaeda.

Parte da piora do humor teve origem na desaceleração do setor manufatureiro dos Estados Unidos. Um indicador do Institute for Supply Management (ISM), que mede o desempenho do segmento, caiu de 61,2% em março para 60,4% em abril.

Petrobras sobe com investimento menor

Na Bovespa, o tombo foi puxado principalmente por papéis ligados a commodities, reflexo do índice dos gerentes de compras na China, que caiu de 53,4 pontos em março para 52,9 pontos em abril, o que indica desaceleração na atividade econômica. Embora a queda do índice reduza as pressões sobre a inflação no país, o dado afetou as perspectivas para demanda de commodities pela China, grande parceiro comercial de empresas brasileiras.

As ações da Vale foram as que mais pesaram ontem sobre o Ibovespa. Os papéis preferenciais (PNA, sem voto) da mineradora recuaram 1,76%, a R$45,26. As ações de siderúrgicas também acusaram o golpe, como a Usiminas PNA (3,53%, a R$15,58), Gerdau Metalurgia PN (2,22%, a R$22,42) e CSN ON (1,02%, a R$22,95)

As empresas "X" - como são conhecidas as companhias do grupo EBX, do empresário Eike Batista - perderam ontem somadas R$2,061 bilhões em valor de mercado. Considerados mais arriscados, por representarem empresas pré-operacionais, os papéis mais afetados foram da LLX (4,40%, a R$4,35) e MMX (3,66%, a R$9,75) e OGX (2,96%, a R$16,39).

O tombo do pregão foi liderado pela Marfrig. Segundo operadores, o mercado vendeu as ações para embolsar o lucro após um grande fundo de investimento ter forçado a alta dos papéis nas últimas semanas. As ações caíram 7,41%, para R$15.

Segundo analistas, as perdas não foram maiores porque as ações da Petrobras reagiram bem ao anúncio que a empresa pretende investir US$73 bilhões no pré-sal da Bacia de Santos até 2015, uma redução de 32% em relação ao plano do ano passado. Isso diminuiu parte da preocupação do mercado sobre a necessidade da empresa se endividar para investir.

Para Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora, as ações da Petrobras apenas passaram por uma pequena correção ontem.

- Eu acredito que o papel está muito atrasada em relação aos demais e passa por um ajuste técnico - disse.

Ontem, a BM&FBovespa anunciou o lançamento de quatro índices de ações: o Índice Brasil Amplo (com 153 ações mais negociadas), o Índice Dividendos (com as empresas que melhor distribuem lucro aos acionistas), o Índice Materiais Básicos (como mineração, químicos etc) e o Índice Utilidade Pública (saneamento, energia elétrica).

ANÚNCIO CAUSA EUFORIA DE CURTA DURAÇÃO NOS MERCADOS MUNDIAIS, no caderno especial sobre a morte de Osama bin Laden