Título: Mantega: governo tem direito de opinar na Vale
Autor: Beck, Martha; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 04/05/2011, Economia, p. 28

Ministro diz que não houve "anormalidade" na sucessão. Agnelli deixa empresa dia 20 e diretora se despede de colegas

BRASÍLIA e RIO. Convidado a dar explicações ao Senado sobre o processo de sucessão na Vale, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo tem o direito de se manifestar sobre os rumos da empresa (maior companhia privada e exportadora do país), uma vez que detém 60% de sua controladora, a Valepar. Ele admitiu que havia um antigo descontentamento com a forma como o presidente da mineradora Roger Agnelli vinha conduzindo os negócios, mas defendeu que a troca de comando ocorreu sem ingerência política.

A substituição de Agnelli, que fica no cargo até 20 de maio, foi aprovada pelos acionistas no início de abril. Ele será substituído por Murilo Ferreira. Mantega foi o incumbido pela presidente Dilma Rousseff de articular a troca com o Bradesco, maior acionistas individual da Valepar e responsável pela indicação de cargos de gestão na mineradora, segundo acordo de acionistas.

- Embora seja uma empresa privada, a Vale tem participação pública e é natural que o ministro da Fazenda se interesse pelo assunto. Eu acompanhei o processo (de sucessão) de perto e ele ocorreu dentro daquilo que rege o estatuto - disse Mantega aos senadores da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). - - Não vejo nenhuma anormalidade (na troca de comando).

Ferreira já usa sala de presidente do Conselho

E continuou:

- O Bradesco tomou a decisão autonomamente. Talvez tenha havido alguma politização por parte da Vale, mas não por parte do governo. Não trouxemos a solução para o nível político, até porque sempre quisemos uma solução técnica.

O ministro deixou claro que Agnelli desagradou ao ex-presidente Lula com a demora nos investimentos em siderurgia e a demissão de funcionários em plena crise mundial. Segundo Mantega, a Vale precisa se preocupar em remunerar acionistas, mas também tem que "olhar os interesses do país".

Ao ouvir do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), um dos autores do convite da CAE, que um diretor do Bradesco teria dito que a forma como a demissão de Agnelli foi feita havia sido um massacre, Mantega disse que a avaliação é um exagero. Ele também lembrou que o executivo permaneceu dez anos no cargo, mais que a média do setor.

Ferreira assumirá a presidência da Vale em 20 de maio, uma sexta-feira, já que o mandato de Agnelli vai até dia 21 deste mês, um sábado. Há duas semanas, o futuro presidente da companhia vai diariamente à mineradora para se inteirar dos projetos. Por enquanto, tem usado a sala do presidente do Conselho de Administração da Vale, Ricardo Flores, e não tem se envolvido nas decisões, como o recente ingresso no consórcio de Belo Monte.

Além de Agnelli, quem deixa empresa, como esperado, é a diretora-executiva de Recursos Humanos e Serviços Corporativos Carla Grasso. Em comunicado interno distribuído semana passada, ela se despediu dizendo que ficaria no posto até fim de abril. Carla era o braço direito de Agnelli. Ainda não se sabe quem vai substituí-la.