Título: FGV: desigualdade tem menor nível em 50 anos
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 04/05/2011, Economia, p. 25

Educação e programas sociais ajudam a explicar redução na distância entre ricos e pobres no Brasil, diz professor

Apesar de ainda apresentar uma enorme distância entre pobres e ricos, o Brasil atingiu seu mais baixo nível de desigualdade de renda em 2010 nos últimos 50 anos, apontou o estudo "Desigualdade e renda na década", do professor Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Gini chegou a 0,5304 (quanto mais perto de zero, menos desigual), no ano passado, superando até mesmo o patamar da década de 60 (0,5367) - quando também começou a ser calculado o indicador no país. Com isso, projeções do especialista apontam que o Brasil passaria para a 15ª posição no ranking, com mais de cem países, de desigualdade mundial.

- Não há nada similar à redução da desigualdade de renda desde 2001. Ainda assim, ainda é muito alta. O país deve registrar mais reduções na desigualdade e na redução da pobreza. De qualquer maneira, o Brasil precisará de mais de 30 anos para atingir o nível da desigualdade americano (0,42) . Há cerca de cinco anos o Brasil estava em décimo lugar - disse Neri, acrescentando que o contrário acontece em outros países. - Estamos no sentido oposto de China, Índia, Indonésia, EUA e países da Europa, onde a desigualdade cresce.

Renda dos analfabetos avança 47% aponta estudo

De acordo com o estudo, a renda dos 10% mais ricos apresenta taxa acumulada de crescimento de 10,03% na década passada. Já o avanço para os 50% mais pobres foi de 67,93% - taxa 577% maior do que a da faixa dos mais ricos.

Néri atribui a queda na desigualdade no país, sobretudo, aos avanços na educação, seguidos pela adoção de programas sociais. Entre os 20% mais ricos, a renda de todas as fontes cresceu 8,88% e a escolaridade, 8,12%. Já entre os 20% mais pobres, os saltos foram, respectivamente, de 49,52% e 55,59%.

- O grande personagem desse avanço é a escolaridade, embora ainda tenhamos a mesma taxa de escolaridade do Zimbábue. Então, meu otimismo está condicionado à continuidade de melhorias na educação e no mercado de trabalho - afirmou Neri.

O estudo revelou ainda que a renda individual dos analfabetos aumentou 47% entre 2001 e 2009. Enquanto isso, pessoas com ao menos o superior incompleto tiveram queda de 17% na renda individual. Segundo Néri, o mercado de trabalho brasileiro está valorizando mais a base - da empregada doméstica aos pedreiros.

- É o trabalho pouco valorizado ficando mais valorizado no país. Programas sociais também podem aumentar o salário-reserva. Sem dúvida é um dado curioso, já que é um movimento contrário ao que se observa na China - disse o especialista.

Entre 2001 e 2009, os maiores ganhos reais de renda ocorreram em grupos tradicionalmente excluídos, frisou Neri. A renda individual das mulheres cresceu 37,72%, contra 16,63% da renda masculina. O Maranhão, que era o estado mais pobre do país, teve ganho de 46,82% na renda. Já São Paulo, 7,24%. O Nordeste 41,80%, contra 15,75%, do Sudeste. Segundo Néri, a pobreza caiu 50,64% entre dezembro de 2002 e dezembro de 2010.

- Dois terços da pobreza já foram, falta o terço mais difícil

Melhoria de vida permitiu volta para o Rio

A melhoria de vida dos brasileiros ajuda a ilustrar o estudo de Neri. O chefe de obras Fabiano da Silva Barbosa tem segundo grau completo e ganha cerca de 9 salários mínimos, 30% a mais do que no ano passado.

- Nos últimos anos, minha vida mudou muito para melhor. Comprei carro, dois imóveis.

Junto com Fabiano vem a equipe que ele contrata para as obras. Segundo o empreiteiro, o operário que ganhava R$600 por semana no ano passado, hoje ganha R$700. Já o ajudante, que ganhava R$180 a cada cinco dias trabalhados, passou para R$220. Carlos Henrique Pereira Gregório é um deles. Com a melhora voltou de São Paulo, onde trabalhava por causa das melhores oportunidades, e hoje mora em Niterói, perto da família. O auxiliar de obras viu sua renda aumentar de R$600 para R$800 de um ano para cá.

- Estou estudando para entrar no mercado de trabalho com um emprego melhor.