Título: Lula blinda aliado de olho em 2010
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2009, Política, p. 3

Presidente aposta na defesa de Sarney a fim de afastar os peemedebistas de uma aliança eleitoral com os tucanos

Múcio elogiou a solidariedade do senador e negou a chance de renúncia

A contra-ofensiva deflagrada ontem em defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), contou com o aval do Palácio do Planalto. E, como nas semanas anteriores, foi orquestrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em conversas com ministros e parlamentares nos últimos dias, Lula lembrou que a manutenção de Sarney à frente do Congresso trará benefícios à candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em 2010. Por exemplo: afastará os peemedebistas das negociações eleitorais com o PSDB, aproximando-os ainda mais da chapa a ser encabeçada pela ¿mãe do PAC¿.

¿Em política, você não pode ser ingênuo. É claro que tem relação com 2010¿, disse um dos ministros mais influentes do governo, referindo-se aos discursos dos líderes do PSDB e do DEM no Senado ¿ Arthur Virgílio (AM) e José Agripino Maia (RN), respectivamente ¿ pelo afastamento de Sarney do comando da Casa. A auxiliares, Lula também lembrou que, se Sarney renunciar ao cargo, o governo correrá o risco de sofrer retaliações do PMDB na CPI da Petrobras. Apesar de instalada formalmente, a comissão não começou a trabalhar. A meta do Planalto é mantê-la sob controle, impedindo danos à candidatura de Dilma e aos projetos da empresa. Cabe à Petrobras a maior parte dos investimentos públicos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Senha

O presidente e ministros monitoraram no fim de semana os ânimos de Sarney. Ouviram do senador a disposição de enfrentar o que ele chamou de calvário. ¿Eu tenho história. Não vou sair da vida pública pela porta dos fundos¿, teria afirmado o peemedebista, conforme o relato de um ministro. A declaração serviu de senha para Lula reforçar os recados endereçados à tropa governista. Agora, num tom mais contundente. O presidente está impaciente com senadores do PT. Além de tachá-los de ingênuos, ressalta que a sucessão presidencial está em jogo e será a mais suja da história. Por isso, não haveria espaço para encenações, como defender em público o afastamento temporário de Sarney, como fez, entre outros, o líder petista Aloizio Mercadante (SP).

¿Suplicy, você está há 18 anos no Senado e não sabia de nada do que acontecia lá de errado?¿, perguntou Lula ao colega de partido, num misto de ironia e reprimenda. Ontem, depois da reunião da chamada coordenação política, o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, elogiou a solidariedade de Sarney com o governo. ¿Tenho conversado com o presidente Sarney, e ele está disposto a enfrentar. Cada denúncia que surge tem sido investigada, e a ele interessa também que seja esclarecido¿, afirmou Múcio. Horas mais tarde, Lula aproveitou a cerimônia de sanção da nova lei sobre adoção para criticar a cobertura negativa feita pela imprensa.

Opinião do internauta

Leitores do Correio comentam a crise no Senado

O senador Collor parece não ter tirado lição de humildade na sua passagem nefasta pela Presidência, pois mostrou que não está reabilitado para o exercício da política ao atacar a figura inatacável de Pedro Simon. Damião Procópio

Conselho de Ética!?! Quem são seus componentes? São amigos de uma certa ¿nobreza¿ legislativa? São suplentes dos salafrários políticos, que não têm voz ativa, a não ser para inocentar seus representados? Ou são de inequívoca lealdade e honestidade republicana? Quem são os verdadeiros republicanos do conselho? Gabriel Morais

Conselho de Ética no Senado? Duvido que dê algo além de um rodízio de pizza. Esse conselho é chapa branca! Fora, Sarney!!! Bernardo Castro

Uma vez perguntaram: qual o pior câncer na política? Resposta: o cerceamento ao direito em todos os sentidos. Quando conflitos de ideias, posição etc. Que prevaleça a liberdade da defesa e da acusação. Isso é democracia. Hildo Evaristo