Título: Resgate de corpos do 447 pode começar em 48h
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Fonte: O Globo, 04/05/2011, Rio, p. 22
Descoberta da segunda caixa-preta, que está em boas condições, finalmente poderá esclarecer o desastre aéreo
Os corpos de passageiros do voo 447, localizados nos destroços do avião da Air France que caiu no Atlântico em 31 de maio de 2009, podem começar a ser resgatados em até 48 horas. A informação foi dada ontem pelo jornal francês "Le Monde", que ouviu "uma fonte próxima à investigação". O diretor do Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos (BEA, na sigla em francês), Jean-Paul Troadec, anunciou que a segunda caixa-preta resgatada ontem de madrugada, contendo os diálogos travados entre os pilotos e os ruídos dentro da cabine, está "cheia" e "em bom estado".
Análise pode levar cerca de três semanas
Segundo o ministro dos Transportes da França, Thierry Mariani, se o conteúdo dessa caixa-preta estiver preservado, em três semanas será possível saber a verdade sobre o acidente que matou 228 pessoas.
A Air France divulgou uma nota ontem em que o CEO da empresa, Pierre-Henri Gourgeon, classifica a localização da segunda caixa-preta como um passo decisivo na investigação sobre a queda do Airbus A330. No comunicado, ele disse esperar que as informações "possam ser usadas e fornecer respostas às questões que têm sido levantadas há quase dois anos pelos familiares das vítimas, pela Air France e pela indústria da aviação mundial sobre os fatos que conduziram ao trágico acidente". Na nota, ele agradeceu ainda ao BEA e às autoridades por terem perseverado nas buscas.
O governo francês vai convocar técnicos do Brasil, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, além de oficiais de Justiça, para acompanharem a transcrição das duas caixas-pretas. Segundo Thierry Mariani, o objetivo é dar mais transparência ao trabalho e atender à pressão das famílias de vítimas, que questionam a independência do BEA. O laboratório que fará a transcrição é controlado pelo governo da França, que também tem participação acionária na Air France, na Airbus e na Thales, fabricante dos antigos pitots usados nesse modelo de avião. Por exigência da Justiça, a análise deve ser registrada por câmeras e testemunhas.
A caixa-preta com os diálogos na cabine - o cockpit voice recorder (CVR) - estava a dez metros da primeira caixa-preta, o flight data recorder (FDR) resgatado domingo, no qual ficam armazenados todos os parâmetros do voo. Assim como a primeira caixa, a segunda caixa-preta também foi localizada pelo robô Remora 6000 e foi imediatamente anexada ao inquérito judicial. Ela está sendo mantida num recipiente com água para se manter o máximo possível em seu estado atual e ficará submersa até o início das análises, em Le Bourget, perto de Paris.
Segundo Troadec, a compreensão do que está gravado nas caixas vai depender do estado de conservação dos equipamentos. A corrosão é o fator que mais preocupa.
- Vai depender do nível da oxidação, que pode ter danificado alguns dos dados, tornando mais difícil a descriptografia - disse o diretor do BEA, acrescentando que os investigadores tinham identificado todas as peças que eles queriam resgatar.
Agora, segundo Troadec, com as duas caixas-pretas, será possível determinar com precisão as causas do acidente. Especialistas ouvidos pelo "Le Monde" afirmaram que, a partir do início dos trabalhos, os dados poderão ser recuperados em dois ou três dias.
As duas caixas têm informações complementares. Enquanto a última resgatada guarda as gravações de voz, a primeira, encontrada no domingo, traz todos os detalhes técnicos do voo, como altitude, velocidade, desempenho do motor e trajetória.