Título: Ex-ministro de Mubarak é condenado
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Fonte: O Globo, 06/05/2011, O Mundo, p. 37

Primeira autoridade do antigo regime egípcio a ser julgada é sentenciada a 12 anos

ex-ministro do Interior comandava a temida polícia egípcia, que reprimiu manifestantes pró-democracia

CAIRO. O ex-ministro do Interior Habib al-Adli, que comandou a brutal polícia egípcia, foi condenado ontem a 12 anos de prisão, no primeiro sentenciamento de um antigo membro do Gabinete do ditador Hosni Mubarak. Embora a condenação seja por corrupção e lavagem de dinheiro, a sentença foi vista como uma resposta do governo militar aos manifestantes, de que ninguém está acima da lei.

Adli era odiado devido à repressão aos integrantes do movimento pró-democracia que acabou por derrubar Mubarak, em 11 de fevereiro. O aparato policial que o ministro comandava era considerado intocável e abriu fogo contra manifestantes que ocuparam a Praça Tahrir, no centro do Cairo. Mais de 800 pessoas morreram no levante.

No próximo dia 21, de novo no banco dos réus

Ontem, o ex-ministro foi considerado culpado por lavagem de dinheiro. A defesa do ex-ministro negou todas as acusações e deve recorrer da sentença.

¿Isso é apenas um aperitivo. Vamos economizar nosso fôlego para quando ele cair por matar manifestantes¿, disse Khaled Tawfeek no Facebook, um dos instrumentos usados para mobilizar os manifestantes no início do ano.

Adli também está sendo julgado por seu suposto envolvimento na morte de manifestantes durante a onda de protestos. Mas a decisão da Justiça sobre essa acusação deve ser divulgada somente numa nova audiência, marcada para o dia 21. Um dos promotores disse que vai buscar a pena de morte. Seis assessores do ex-ministro também serão julgados. Segundo os manifestantes, a prática de tortura era comum nas prisões quando Adli era ministro.

Familiares dos mortos nos protestos contra o antigo governo acompanharam o julgamento do lado de fora do tribunal, nos arredores do Cairo. A sentença mostra que o conselho militar que agora controla o país está respondendo aos pedidos dos egípcios para prender e julgar antigos integrantes do governo por abuso de poder.

¿ A justiça não poderia ser mais doce e irá prevalecer ¿ disse o decorador Karim El Hayawan, que participou dos protestos na Praça Tahrir.

Vários integrantes do antigo regime estão presos, entre eles os dois filhos de Mubarak (Gamal e Alaa), líderes do antigo Partido Nacional Democrático e o ex-presidente do Parlamento. O próprio ex-ditador é investigado por abuso de poder, apropriação indevida e morte de manifestantes. Mubarak está sob ordem de prisão num hospital de Sharm el-Sheikh.