Título: Na fortaleza-mansão, só Seals teriam disparado
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Fonte: O Globo, 06/05/2011, O Mundo, p. 35

Segundo nova versão divulgada no `NYT¿, Bin Laden tinha um AK-47 e uma pistola ao alcance da mão ao ser morto

WASHINGTON. As versões sobre a sucessão de acontecimentos que culminou na morte de Osama bin Laden não param de ser recontadas por funcionários do governo americano. Se, logo no primeiro dia, o governo americano afirmou que o chefe da al-Qaeda estava armado e os militares americanos enfrentaram um forte tiroteio durante os 40 minutos que durou a operação, a Casa Branca já admitiu que o líder terrorista estava na verdade desarmado no momento em que foi encontrado. Novas revelações do ¿New York Times¿, que ouviu fontes do governo, trazem outros detalhes que vão contra as versões oficiais apresentadas até agora.

Segundo as fontes, as forças especiais americanas receberam tiros apenas nos primeiros minutos da operação, que na verdade foi marcada pela superioridade militar avassaladora dos soldados de elite americanos ¿ não deixando nenhuma opção de defesa aos guarda-costas de Bin Laden.

Tiros contra os Seals teriam sido disparados fora da casa

Os funcionários revelam ainda que, apesar de desarmado, Bin Laden contava com um fuzil Ak-47 e uma pistola Makarov ¿ao alcance da mão¿.

O ataque, ainda que caótico, foi ¿extremamente favorável ao lado americano¿, com uma força de mais de 20 membros da tropa de elite, que neutralizaram rapidamente os moradores da casa e os homens que protegiam o inimigo nº1 dos Estados Unidos.

Na verdade, de acordo com o ¿NYT¿, os militares americanos enfrentaram apenas um foco de resistência armada, por parte de Abu Ahmad al-Kuwaiti ¿ o mensageiro de Bin Laden que guiou inadvertidamente funcionários da CIA ao esconderijo do líder terrorista. Al-Kuwaiti teria disparado contra as forças americanas logo nos primeiros minutos da operação, por trás da porta de uma pequena casa adjacente à residência principal onde se escondia a família de Bin Laden. Soldados americanos responderam, e mataram o mensageiro e uma mulher que estava no mesmo local.

Essa versão dos fatos diverge completamente daquela apresentada pelo Pentágono, na terça-feira, na qual os militares ¿enfrentaram tiroteio durante toda a operação¿. Numa entrevista à TV também na terça-feira, o diretor da CIA, Leon Panetta, havia afirmado que ¿houve tiroteios enquanto os soldados subiam as escadas da casa¿ de Bin Laden.

Terrorista carregava dinheiro e números de telefone

Segundo os funcionários do governo, os relatos sobre a ação foram sendo modificados à medida que receberam os relatórios fornecidos pelas forças envolvidas na operação. Eles ainda afirmam que, como os soldados foram recebidos com tiros ao entrarem no complexo, acreditaram que todas as pessoas presentes na casa estavam armadas, e deram uma resposta à altura dessa expectativa. E justificam a força usada:

¿ Os militares estavam num ambiente hostil e ameaçador em todos os momentos ¿ disse um funcionário.

Ao chegarem à casa principal, os soldados viram o irmão de al-Kuwaiti, e acreditaram que ele se preparava para atirar, por isso, o abateram. Quando começaram a subir as escadas da casa principal, avistaram Hamza, filho de Bin Laden, e também o mataram. Por fim, chegaram ao cômodo onde estava Bin Laden, desarmado, mas com duas armas por perto. Sua quinta mulher, a iemenita de 29 anos Amal Ahmed Abdul Fatah, teria se jogado na frente de Bin Laden, para protegê-lo, e foi ferida na perna. Em seguida, o chefe da al-Qaeda foi atingido e morto.

Os novos relatos não foram comentados pela Casa Branca, que informou que não faria mais nenhuma revelação sobre o caso ¿ temendo que a liberação de novos detalhes comprometam outras operações secretas no futuro.

Congressistas americanos confirmaram que, ao ser morto, o terrorista levava consigo dinheiro vivo, num total de 745, e dois números de telefone costurados na roupa ¿ o que demonstra que ele estava preparado para fugir a qualquer momento.

As primeiras informações obtidas em computadores apreendidos na casa revelam que a al-Qaeda planejava para o 10º aniversário do 11 de Setembro, este ano, um atentado contra trens americanos, segundo o Departamento de Segurança Interna.