Título: Nos passos de Bush
Autor:
Fonte: O Globo, 06/05/2011, O Mundo, p. 34

Quatro dias após morte de Bin Laden, Obama vai ao Marco Zero homenagear vítimas

BUSH, AO lado de bombeiro aposentado, visita o local onde ficavam as Torres Gêmeas

ACOMPANHADO POR um policial e um bombeiro, Obama leva uma coroa de flores ao Marco Zero: primeira visita como presidente

Cristina Indio do Brasil

Duas visitas e dois momentos completamente diferentes. Em 2001, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, foi ao Marco Zero, em Nova York, três dias depois do atentado às Torres Gêmeas que provocou a morte de quase três mil pessoas e introduziu no imaginário popular uma figura sinistra: Osama bin Laden. A visita de Bush foi carregada pela mistura de tristeza com o sentimento de que era preciso reerguer o país, abalado com a vulnerabilidade a um ato terrorista daquele tamanho. O ataque uniu os EUA e impulsionou o governo Bush. Quase dez anos depois, o atual presidente dos EUA, Barack Obama, foi ao local do maior atentado da História. Desta vez, quatro dias após outro fato marcante. Obama cumpria o que seu antecessor prometera no mesmo local: o líder da organização terrorista que idealizou o ataque estava morto.

No Marco Zero, Obama foi recebido por representantes de parentes das vítimas, agradecidos. Alguns abraçaram o presidente como se ele fosse mais um integrante da família, revivendo um sentimento de união no país.

¿ Quando dizemos que nunca vamos esquecer, estamos falando a sério ¿ disse o presidente americano.

A permanência de Obama, em sua primeira visita ao local como presidente, foi rápida, durou apenas 15 minutos. Tempo suficiente para ele depositar uma coroa de flores e abaixar a cabeça para fazer um minuto de silêncio em homenagem às vitimas.

Para Anthounla Katsimatides, que perdeu o irmão John no ataque, a ida do presidente foi simbólica.

¿ A visita dele foi muito apreciada pelas famílias. Eu espero que volte no aniversário de dez anos do atentado, em 11 de setembro, para a inauguração do Memorial às vítimas.

Visita a bombeiros e policiais antes

Mas para Anthounla a visita de Obama não representou a conclusão de um ciclo na história do ataque.

¿ Meu irmão se foi e ninguém vai trazê-lo de volta. Vou viver com esta dor pelo resto da minha vida ¿ disse, embora admitisse: ¿ Foi muito confortante, doce e simpático para nós. Ele tirou fotos com os parentes e quis saber das nossas histórias.

Com o nome do falecido irmão bordado no colete de couro que usava, e o desenho das Torres Gêmeas nas costas, o electricista John Cartier disse que o encontro com o presidente foi uma grande experiência. Para John, a morte de Bin Laden traz um pouco mais de segurança, mas o risco não está completamente afastado.

¿ Agora que ele está morto, quero nunca mais falar nele. Acho que agora estamos mais seguros com relação a ele, mas o terrorismo não acabou.

Entre os parentes, um sentimento destoante. Quem não recebeu o convite para ficar no local da cerimônia e acompanhou à distância, restou a sensação de que não teve o reconhecimento do seu sofrimento. Marina Arevalo perdeu o filho no atentado. Kenneth Lira Arevalo era engenheiro e trabalhava na segunda torre atingida.

¿ Ele viu apenas um grupo de 15 pessoas. Há muitas famílias que sofrem e precisam de apoio ¿ disse Marina, que preferia um final diferente para o terrorista: que fosse preso ¿para pagar com trabalho duro¿.

Antes de ir ao Marco Zero, Obama visitou o quartel 54 do Batalhão 9 dos Bombeiros de Nova York, numa cena que lembrou seu antecessor. O quartel, na esquina da 8ª Avenida com a Rua 48, fica perto de Times Square e perdeu 15 bombeiros no atentado, em 11 de setembro de 2001. Como aconteceu no Marco Zero, Obama estava acompanhado de Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York na época.

O presidente, que há um mês anunciou sua candidatura à reeleição, permaneceu no quartel por quase uma hora e falou sobre a operação americana no domingo.

¿ O que aconteceu domingo, graças à coragem dos nossos militares e ao extraordinário trabalho dos serviços de inteligência, envia uma mensagem a todo o mundo.

Obama disse que nada é capaz de acabar com o sofrimento das famílias das vítimas. Dirigindo-se aos bombeiros, afirmou:

¿ Não podemos trazer novamente os amigos que perderam e sei que cada um de vocês não chora apenas por eles, mas também estiveram nos últimos anos com suas famílias tentando consolá-las. Este local simboliza o sacrifício que foi feito no atentado.

Ainda no quartel, Obama participou de um almoço preparado pelos próprios bombeiros. No cardápio, berinjela com parmesão e massa com molho de tomate.

¿ Parece que o presidente gostou de tudo. Foi uma boa conversa ¿ disse o chefe do Departamento dos Bombeiros, Edward Kilduff.

No caminho para o Marco Zero, o presidente visitou uma delegacia no sul de Manhattan, onde agradeceu aos policiais pelo trabalho na solução da tentativa de explosão de um carro-bomba em Times Square, em 2010.