Título: Dilma faz apelo por Angra 3
Autor: Oliveira, Eliane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 06/05/2011, Economia, p. 32

Financiamento alemão à usina pode ser cancelado

BRASÍLIA. O presidente da Alemanha, Christian Wulff,

em encontro com a presidente Dilma Rousseff, confirmou que estão cada vez mais intensas as pressões internas para que seja cancelado o crédito de exportação conferido pelo governo alemão à empresa Areva, responsável por fornecer à Eletronuclear os equipamentos necessários à construção da usina nuclear de Angra 3, no Estado do Rio. Segundo pessoas que participaram das conversas, Dilma fez um apelo a Wulff para que ele interceda a favor do projeto junto às demais autoridades alemãs.

A avaliação do Palácio do Planalto e da área diplomática é que, na qualidade de presidente num país parlamentarista, Wulff não tem poder como a primeira-ministra Angela Merkel, "mas tem influência".

Uma fonte revelou que o presidente alemão disse a Dilma que há grande resistência de partidos importantes - o Verde e o Social Democrata - ao financiamento de Angra 3. As pressões ficaram maiores em março último, após os problemas ocorridos na usina nuclear de Fukushima, no Japão. O país asiático foi duramente castigado por terremotos e tsunamis.

Um alto funcionário do governo brasileiro comentou que, apesar da ameaça, ainda é possível acreditar que a a Alemanha não romperá unilateralmente o contrato que fez com o Brasil, até mesmo por uma questão de imagem. No entanto, há um expressivo debate sobre a garantia de crédito concedido pelo governo alemão para que Angra 3 seja construída. Os "verdes" e os sociais democratas querem que Angela Merkel revogue o decreto que autoriza o aval a um empréstimo equivalente a cerca de 1,5 bilhão.

Outro tema delicado no encontro entre Dilma e Wulff diz respeito à inflação. A presidente brasileira criticou os países desenvolvidos que, segundo ela, adotam uma política monetária expansionista, que alimenta altas de preços. Dilma afirmou que o compromisso de seu governo é combater as pressões inflacionárias internas e externas.

Dilma disse ter apresentado a Wulff oportunidades de investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no pré-sal, na recuperação de portos e aeroportos e na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. E citou até o trem-bala.

- Gostaríamos de ter (no trem-bala) a tecnologia alemã e os investimentos - disse.

O presidente alemão brincou pedindo apoio do Brasil em relação às Olimpíadas de 2018:

- O Brasil poderia se empenhar junto ao Comitê Olímpico Internacional, para que Munique seja escolhida.