Título: As medidas são eficazes
Autor: Carneiro, Lucianne; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 06/05/2011, Economia, p. 28

BRASÍLIA. Economista egresso da Fundação Getúlio Vargas, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, diz que não há razão para se derrubar o crescimento da economia em 2011 em nome do combate à inflação. Segundo ele, isso poderia destruir conquistas dos últimos anos.

Deixar a inflação mais alta hoje não pode prejudicar o crescimento?

MÁRCIO HOLLAND: É comum no mercado a crença de que a economia pode crescer zero desde que a inflação fique sob controle. Mas eu não sei se, mesmo que a economia tenha crescimento zero este ano, a inflação vai ficar dentro da meta. A equação hoje não é mais essa. Houve no Brasil uma mudança na estrutura de demanda, de consumo e no mercado de crédito é extremamente saudável. Se você derruba a economia, destrói tudo isso.

O governo está usando o dólar como ajuda no combate à inflação?

HOLLAND: O câmbio não ajuda como a gente costuma imaginar. Acreditar que o governo usa o câmbio para a inflação convergir para a meta é negligenciar estudos que mostram que o efeito é pequeno.

As medidas cambiais foram pouco eficazes. Para quê insistir tomá-las?

HOLLAND: É uma demostração de que o governo está preocupado com o problema. Se não estivesse adotando medidas, aonde estaria a taxa de câmbio? As medidas são eficazes.

Mas não o suficiente.

HOLLAND: Qual é a taxa de câmbio de equilíbrio? É uma variável. É momentânea. Tem 20 anos que eu estudo o câmbio e que eu sei que todos os que previram erraram. Ontem (quarta-feira), alguém falou em R$1,90, e eu disse, não, na pior das hipóteses no médio prazo, ela vai para 1,70, o que é uma acomodação. Não gera pressão inflacionária.

Essa é sua taxa de equilíbrio então?

HOLLAND: Não. Se você tivesse um câmbio de equilíbrio, não estaria num regime de câmbio flutuante.