Título: Pelo quarto dia, Bolsa cai e dólar sobe, com inflação e dados ruins dos EUA
Autor: Carneiro, Lucianne; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 06/05/2011, Economia, p. 28

Moeda tem maior alta diária desde outubro. Na semana, queda da Bovespa é de 4,1%

Lucianne Carneiro, Martha Beck e Patrícia Duarte

RIO e BRASÍLIA. Pelo quarto dia seguido, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda, enquanto o dólar subiu. O Ibovespa, referência do mercado, recuou 0,33%, aos 63.407 pontos, acumulando perda de 4,12% no mês de maio. Já o dólar avançou 1,24% ontem, para R$1,625, a maior alta diária desde 19 de outubro, quando tinha subido 1,26%. A valorização da moeda americana na última semana chegou a 3,30%. A maior aversão a risco no mercado internacional tem pressionado tanto a Bolsa quanto o dólar.

- Os preços de commodities recuaram e o aumento dos pedidos de auxílio-desemprego trouxe maior receio sobre a recuperação da economia americana. Somado a isso, temos o cenário inflacionário preocupante aqui dentro - afirmou o gestor de renda variável da Máxima Asset Management, Felipe Casotti.

O número de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos chegou ao maior nível em oito meses, de 474 mil, muito acima da projeção de mercado de 410 mil.

Já o recuo do preço do petróleo no mercado internacional puxou as ações de Petrobras e OGX. OGX ON (ordinária, com voto) recuou 4,28%, a R$14,55, a segunda maior queda do Ibovespa. Petrobras PN (preferencial, sem voto) caiu 3,36%, a R$24,47, enquanto Petrobras ON, perdeu 2,72%, a R$27,54.

Já as ações ordinárias de Cielo e Redecard escaparam do tom negativo do mercado - com alta de 11,18% e 6,38%, respectivamente. O balanço divulgado pela Cielo para o primeiro trimestre veio acima do esperado pelo mercado, com margens melhores que as expectativas, aumentando a confiança no setor de carões.

Governo vai manter ações contra dólar baixo

O dólar, por sua vez, foi novamente pressionado pelo aumento da aversão a risco, além da repatriação de recursos de investidores estrangeiros e pelo impacto acumulado das medidas do governo para conter a queda da moeda americana.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, garantiu que o governo continuará tomando medidas para conter o derretimento do dólar. Ele negou que a equipe econômica tenha jogado a toalha no câmbio para deixar o enfraquecimento da moeda americana ajudar a conter pressões inflacionárias.

- Continuaremos persistindo de modo a evitar excesso de entrada de capitais. Quando for necessário, tomaremos mais medidas - disse ele.

O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, no entanto, adiantou que não faz parte do cardápio impor alguma quarentena para dólares que entram no mercado doméstico (estabelecer prazos para que investidores que trouxerem moeda americana possam retirá-la do Brasil). O chefe da autoridade monetária ressaltou ainda que o forte ingresso de capital estrangeiro no país é um movimento temporário e alertou os investidores para eventuais riscos que eles podem correr se o fluxo de dólares para o país se reverter, mas destacou que o país está preparado para esse movimento graças ao elevado nível das reservas.

Mesmo mostrando que a Selic é o instrumento clássico da política monetária, Tombini afirmou ontem que a instituição continuará usando medidas de restrição ao crédito, as chamadas macroprudenciais, para combater a inflação. Segundo ele, essas ações têm impacto no consumo, mas ainda não surtiram efeito completo na economia.

Tombini: "Meta de inflação se cumpre no fim do ano"

O governo começou a adotar medidas macroprudenciais no início de dezembro do ano passado. Na ocasião, o BC limitou e encareceu a concessão de crédito de longo prazo para bens de consumo duráveis.

- Em nenhum momento o BC abdicou de seu instrumento (a Taxa Selic). Não abriremos mão das macroprudenciais doravante. Vamos atuar com as macroprudenciais - afirmou o presidente do BC, que ontem participou de audiência pública na Comissão Mista do Orçamento do Congresso.

Tombini também mandou um recado aos críticos que preveem a inflação estourando o teto de meta - 6,5% pelo IPCA - nos próximos meses:

- Meta (de inflação) se cumpre no fim do ano - defendeu ele, acrescentando que a inflação entrará num ritmo de convergência para o centro da meta, de 4,5%, já a partir de maio, junho e julho.

(*) Com agências internacionais