Título: Anonimato é garantido a quem entregar armas
Autor: Gerbase, Fabíola
Fonte: O Globo, 07/05/2011, Rio, p. 21

Lançada ontem no Palácio da Cidade pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a Campanha Nacional do Desarmamento 2011 traz a expectativa de superar as duas campanhas anteriores realizadas no país, entre os anos de 2004 e 2005 e entre 2008 e 2009, por garantir o anonimato de quem entregar sua arma. Além de autoridades como o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, a solenidade contou com a presença de parentes das vítimas do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, que hoje completa um mês.

Armamento agora é inutilizado no ato da entrega

O grupo, mobilizado para criar a Associação dos Familiares e Amigos dos Anjos de Realengo, se reuniu com Cardozo e o prefeito após a cerimônia e aproveitou para entregar uma lista de reivindicações. O lançamento da campanha, originalmente previsto para junho, foi antecipado por causa da chacina no colégio carioca.

- O ministro falou, com razão, que não podemos transformar os colégios em fortalezas, mas há coisas a fazer. Propomos, por exemplo, a contratação de pessoal da área de segurança para ajudar o trabalho dos porteiros e inspetores - explicou Raimundo Nazareth, pai da vítima Ana Carolina Pacheco da Silva.

Para Cabral, o lançamento da campanha foi a forma mais correta de responder ao trágico episódio. Cada cidadão que entregar uma arma receberá entre R$100 e R$300, dependendo do tipo. O prazo para se desarmar vai até 31 de dezembro.

- Temos orçamento de R$10 milhões para indenizar as pessoas que entreguem suas armas. Espero que até o fim do ano falte dinheiro. Estamos ousando ao garantir o anonimato. E a maior agilidade no pagamento das indenizações, com o uso de senha bancárias individuais, também é novidade positiva. Temos dados do Instituto Sangari que mostram redução média de 18% no registro de casos de homicídios no país após as duas campanhas de desarmamento - disse Cardozo, que ontem participou ainda da destruição de duas mil armas na Companhia Siderúrgica Nacional(CSN), em Volta Redonda. - O mais importante é que esse aço será entregue à prefeitura do Rio e servirá para a criação de suportes para videogames, entre outros materiais multimídia nas escolas cariocas, principalmente na Tasso da Silveira.

O diretor da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes, abriu ao meio-dia de ontem o primeiro posto de coleta de armas na cidade fora de uma unidade da Polícia Federal.

- Um desafio é a ampliação do número de pontos de entrega. É preciso que a polícia dê apoio logístico para que espaços como as igrejas recebam armas - disse Rubem César.

Até as 17h foram entregues no Viva Rio cem armas. O aposentado Jail Serra, de 79 anos, foi um dos que procuraram o ponto. Ele deixou lá uma pistola calibre 22 e se disse aliviado.

- Tenho três netos e essa arma era motivo de preocupação. Não trazia benefício - avaliou Serra, antes de marretar a pistola, cena que se repetiu ao longo da tarde no Viva Rio, já que um dos compromissos da campanha deste ano é inutilizar a arma no ato da entrega.

O posto da ONG funcionará na Rua do Russel 76, na Glória, de segunda a sexta-feira das 9h às 17h e aos sábados das 9h às 13h. Mais informações estão disponíveis no site entreguesuaarma.gov.br

COLABOROU Dicler de Mello e Souza

Um mês após tragédia, dança emociona alunos

Missa lembrará mortos em escola

ESTUDANTES DA Tasso da Silveira seguram rosas após espetáculo

Ediane Merola

Abraçada ao filho Carlos Matheus, Carla Vilhena sabe que o Dia das Mães, amanhã, será especial. Aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, o menino de 13 anos foi um dos feridos pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira, que exatamente há um mês assassinou 12 crianças no colégio. Aos poucos, a rotina de Carlos e da unidade de ensino começa a voltar ao normal. Ontem, a companhia Dançando Para Não Dançar esteve na escola para uma apresentar o espetáculo "Favela" para pais e alunos. Carlos, atingido de raspão no peito e baleado no braço, estava lá com a mãe:

- Eu poderia estar sem meu filho agora, mas ele está aqui comigo. Isso é o que importa - disse Carla.

Quase no fim do show, a bailarina Ana Botafogo, madrinha do projeto, chegou ao colégio. Segundo ela, os estudantes ficaram emocionados:

- A dança trabalha o movimento, a coordenação motora. Faz a pessoa tirar a emoção que vem de dentro.

A plateia recebeu rosas dos organizadores. Hoje, funcionários, estudantes e seus familiares participarão de uma passeata, que sairá do colégio, às 9h. Às 19h, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, fará uma celebração em memória dos mortos, na Igreja Cristo Libertador, em Realengo.