Título: Festa na cidade para comemorar presente
Autor: Goulart, Gustavo ; Moura, Athos
Fonte: O Globo, 07/05/2011, O País, p. 10

No dia seguinte à decisão do Supremo Tribunal Federal de reconhecer legalmente a união entre pessoas do mesmo sexo, o sol brilhou forte e esquentou os debates sobre o assunto na Praia de Ipanema, em frente à Rua Farme de Amoedo, conhecido reduto gay do Rio. Casais homossexuais comemoraram a novidade com discrição, mas levando a sério a decisão do STF. De férias no Rio, o radialista goiano Fernando de Paula, de 23 anos, elogiou a decisão, mas disse que não havia outra alternativa.

¿ Estamos aqui, não somos diferentes. Isso (o reconhecimento legal) já deveria ter acontecido há muito tempo. A gente paga imposto e gera muita renda, onde quer que esteja. Não se pode negar isso. Estamos passeando no Rio, e olha quanta gente como nós existe aqui.

Seu namorado, o farmacêutico Wesley Guerra, comemorou 25 anos no dia da votação e acha que recebeu um presente.

¿ Agora nos sentimos como os outros. O bom é que agora já posso me casar.

Ontem de madrugada, gays foram às ruas comemorar. Na porta de uma das boates para homossexuais mais badaladas da cidade, o estilista Guilherme Tavares, de 35 anos, lamentou que a decisão do STF tenha sido tomada só agora, uma semana antes de seu casamento, mas comemorou. Tavares embarca terça-feira para a Noruega para oficializar o namoro de 14 anos:

¿ Essa decisão já deveria ter sido tomada há bastante tempo. Meu namorado é norueguês, e lá as coisas são muito mais agilizadas. Ele me pediu em casamento logo no início do nosso relacionamento.

Apesar de estar em uma relacionamento sério há mais de uma década, o estilista revelou sua orientação sexual à sua mãe apenas quatro semanas atrás, porque ela é religiosa. Tavares acredita que a decisão do STF vai ajudar gays a não temerem quando se assumirem:

¿ Não há motivo para sermos tratados de forma diferente. Essa decisão vai ajudar as futuras gerações a respeitarem os homossexuais e as pessoas a decidirem por si só sua orientação sexual.

Na mesma boate, o cabeleireiro Wagner Lisboa, de 30 anos, contou que aguardava ansioso pela decisão. Segundo ele, a população brasileira está mais tolerante com os gays.

¿ O Rio já foi cogitada para ser a capital mundial dos gays. Era um absurdo sermos diferenciados ¿ disse.

Para a dançarina Louise Alves, de 26 anos, que morou com sua ex- parceira por dois anos, a decisão do STF foi um progresso não só na esfera civil, mas também na moral.

oglobo.com.br/pais