Título: Cardápio executivo
Autor: Rosa, Bruno; Justus, Paulo
Fonte: O Globo, 06/05/2011, Economia, p. 27

Busca por presidentes de empresas dobra no Brasil e mercado de dirigentes se aquece com troca-troca

Abusca por novos presidentes corporativos dobrou no início deste ano em relação ao primeiro trimestre de 2010. Pesquisa feita pela Fesa, maior companhia de seleção de altos executivos do país, revela ainda que 20% dos recrutamentos realizados para ocupar cargos de chefia em 2011 foram direcionados para a principal ¿cadeira¿ das corporações. O troca-troca é explicado pelo maior investimento estrangeiro no país, pelo forte processo de fusões e aquisições e pela carência na elaboração de planos de sucessão nas empresas. Levantamento feito pelo GLOBO constatou que somente este ano já foram anunciadas mudanças no comando em, pelo menos, 14 companhias. Mas os especialistas, como Alessandra Simões, diretora da Fesa, são unânimes: faltam nomes para comandar as maiores companhias do país:

¿ O Brasil ficou muito tempo sem crescer. Com isso, as empresas não criaram organogramas de sucessão. Este é o atual problema. Ao mesmo tempo há o desafio do crescimento, com a vinda de novas empresas estrangeiras e o processo de fusões e aquisições. Por isso, faltam nomes para comandar as grandes companhias.

No setor automotivo, a rotatividade nos altos cargos das empresas aumentou 125% este ano, seguido pelo segmento de serviços especializados (shopping, educação e hotelaria), com avanço de 100%, e pela área de energia (92%). Mais movimentações são esperadas, sobretudo nos setores de óleo e gás, energia renovável e financeiro.

Para Olavo Chiaradia, gerente da consultoria Hay Group, o troca-troca no alto escalão está no centro da preocupação das companhias. Uma pesquisa feita com 140 empresas este ano mostrou que dois terços delas encontram problemas para contratar. E mais, diz, 84% das companhias não têm programa de retenção dos talentos:

¿ Existe dormência no mercado. Todo mundo sabe que o problema existe, mas age de forma reativa.

Mulheres comandam Johnson e Pepsico

Desta forma, os nomes já consagradas se valorizam. Somente Luiz Eduardo Falco, que fica na presidência da Oi até junho, já teria recebido nada menos que dez propostas de conversas, segundo uma fonte do setor. Em outros casos, os headhunters estão buscando executivos que estavam fora do mercado privado. Caso de José Luiz Alquéres, ex-presidente da Light.

¿ Fui procurado. Estou em conversas. Mas será algo em infraestrutura ou no setor financeiro. O mercado está aquecido ¿ disse Alquéres.

O setor de telecomunicações é um dos mais agitados. A Vivo, do grupo espanhol Telefónica, não terá mais Roberto Lima, que permanece no comando até 30 de junho. Mas as mudanças vão além. A empresa europeia se reúne na próxima semana para decidir se Antônio Carlos Valente permanece na presidência do grupo.

¿ O encontro será terça-feira. Além de Valente, será decidido se Luis Miguel Gil Pérez, hoje diretor da Telefónica América Latina para o Brasil, será nomeado para a companhia brasileira. As mudanças estão ligadas à saída da Portugal Telecom (PT) na Vivo e a sua entrada na Oi ¿ diz uma fonte ligada à companhia.

Marcelo Santos, presidente da consultoria Doers, destaca que todas as grandes empresas do país estão revendo seus planos:

¿ Quando há um plano de crescimento, todos procuram as melhores alternativas. E, para isso, é preciso mudar o padrão atual, que envolve necessariamente a mudança no comando da empresa. Infraestrutura e tecnologia são áreas que ainda terão muita troca de presidentes este ano.

No setor de bebidas, Otto Von Sothen assumiu a presidência da Diageo, dona da Johnnie Walker e Smirnoff. Até então, ele comandava a divisão de alimentos da PepsiCo no Brasil. Com sua saída, a empresa americana contratou Roberto Ríos para o cargo.

As mulheres também têm a sua fatia. A própria Pepsico nomeou Andrea Alvares para a divisão de bebidas. O mesmo fez a Johnson & Johnson, que escolheu Maria Eduarda Kertesz para comandar a empresa. Ela faz parte do projeto de reorganização da companhia, que terá mais autonomia e uma estrutura mais simplificada para trabalhar no Brasil:

¿ A Johnson & Johnson redesenhou as estruturas na área de consumo no mundo, com o objetivo de aproximar a decisão do mercado local, aumentar a agilidade na tomada de decisões e aproveitar as sinergias de marcas globais. A ideia é acelerar o crescimento, ganhar participação de mercado ¿ afirma Duda.

Além do avanço da economia, o fator político causa reviravoltas. O caso mais recente é o de Roger Agnelli, que deixa a Vale em 20 de maio. Ele pretende permanecer no conselho de administração de algumas empresas:

¿ Tô feliz, tô tranquilo, tenho minha vida de volta. Trabalhei 32 anos na Vale e no Bradesco, nunca dominei minha agenda. Vou ficar um mês quieto para aprender o que é não ter agenda.

COLABOROU Danielle Nogueira