Título: Importação cai 30%
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 04/08/2009, Economia, p. 15

Demanda fraca, falta de investimentos e estoques elevados inibem compras fora do país

Fluxo de mercadorias nos portos brasileiros está menor, apesar de saldo comercial de US$ 17 bilhões no ano

O elevado nível de estoques da indústria e do comércio e a drástica redução dos investimentos produtivos levaram as importações a registrarem queda de 29,9% nos primeiros sete meses do ano ante o mesmo período de 2008. As compras de produtos fabricados fora do país somaram apenas US$ 67,1 bilhões, indicando que a reação da economia alardeada pelo governo ainda está longe de se tornar realidade. Quanto mais fraca está a atividade, mais as importações diminuem.

Foi esse o principal motivo de o saldo comercial brasileiro ter apontado crescimento de 15,6% entre janeiro e julho, totalizando US$ 16,9 bilhões. ¿As importações caíram bem mais do que as exportações, pois o Brasil vende muita comida para o exterior. E, mesmo com crise, as pessoas não deixam de se alimentar¿, explicou um técnico do governo. ¿Não fosse o que o mercado chama de commodities agrícolas (soja e milho, por exemplo), o saldo teria sido bem menor, pois as exportações teriam caído mais¿, acrescentou.

As exportações cravaram US$ 84,095 bilhões (média diária de US$ 580 milhões) nos primeiros sete meses do ano, um recuo de 23,8%. Já a corrente de comércio do país (a soma das importações com as exportações) atingiu, no período, US$ 151,277 bilhões (média diária de US$1,043 bilhão), computando retração de 27,2%. ¿Apesar de não termos do que reclamar, pois estamos com saldo comercial positivo, não podemos negar que a crise afetou o nosso comércio exterior, pois a maior parte dos nossos parceiros está registrando baixo crescimento ou teve contração econômica¿, disse o mesmo técnico.

Compras da China Em julho, especificamente, o saldo comercial de US$ 2,9 bilhões encolheu 12,04% ante igual período do ano passado. As exportações totalizaram U$ 14,1 bilhões, com a média diária caindo 30,8%. Já as importações alcançaram US$ 11,2 bilhões, com a média diária desabando 34,5%. Esses números acenderam uma luz amarela no Ministério do Desenvolvimento. ¿O fato de não termos uma continuação nas exportações sempre preocupa¿, admitiu o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, que relacionou os exportadores nacionais a personagens da mitologia e do folclore popular: ¿Homenageando Euclides da Cunha (escritor brasileiro, autor de Os Sertões), eu diria que o exportador brasileiro é quase um Hércules (deus grego) Quasímodo (Corcunda de Notre Dame, personagem do livro de Victor Hugo)¿, disse.

Ele ressaltou que, mesmo para a China, que tem demonstrado um fôlego maior, as vendas brasileiras encolheram 21,7% no mês passado, somando US$ 2,060 bilhões. Esse resultado, detalhou Barral, deveu-se à redução nas exportações de soja em grão, óleo de soja bruto e aviões.