Título: Empreiteiras recebem R$8,5 por cada real doado a campanha de políticos
Autor: Nogueira, Danielle; Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 08/05/2011, Economia, p. 30

Estudo de americanos acompanhou deputados do PT eleitos em 2006

SÃO PAULO. Muito se fala das relações nem sempre transparentes entre grandes empreiteiras e políticos, e da influência destas no Orçamento. Essas relações, ponderam especialistas, ganham evidência nas contribuições das empresas para campanhas de candidatos, autorizadas pela legislação desde que limitadas a 2% do faturamento anual bruto. Todas as grandes empreiteiras fazem doações a candidatos. Mas o quanto volta em forma de obras era uma incógnita até três acadêmicos estrangeiros analisarem o tema.

Em março, o cientista político da Universidade de Boston Taylor Boas publicou, com Neal Richardson e F. Daniel Hidalgo, da Universidade da Califórnia - todos especialistas em política latino-americana -, o estudo "The spoils of victory: Campaign donations and government contracts in Brazil" ("O espólio da vitória: Doações de campanha e contratos públicos no Brasil"). Eles analisaram as contribuições para a campanha de candidatos do PT à Câmara dos Deputados em 2006 e seu retorno em contratos de obras públicas.

Relação não se repete em partidos da base aliada

A conclusão é que, para cada real doado, a empreiteira recebe 8,5 vezes o valor na forma de contratos de obras escolhidas por políticos do PT e incluídas nos orçamentos federal e estadual, ao longo de 33 meses após as eleições. Isso não ocorre com políticos de outros partidos, inclusive da base aliada.

"Entre os candidatos do PT que receberam doações de empresas de obras públicas, descobrimos que uma vitória eleitoral gera R$147 mil em contratos adicionais para quem contribui. Ou 8,5 vezes a quantidade doada. Não descobrimos qualquer efeito entre as doações para candidatos de outros partidos, incluindo os aliados do PT", afirma o estudo. "Essa descoberta desafia a crença de que os presidentes brasileiros usam as emendas ao Orçamento como moeda para manter uma coalizão de apoio ao governo".

"Em 2006, 56,6% dos fundos levantados por candidatos a deputado federal vieram de doadores corporativos, contra 32,3% de indivíduos", diz o estudo. "Em 2006, os candidatos vitoriosos na disputa de deputado federal gastaram em média US$234.891 - em termos nominais, cerca de um quinto do gasto nas eleições para a Câmara dos Representantes dos EUA em 2008". Para os pesquisadores, um valor "espantosamente alto", já que, ao contrário dos americanos, os brasileiros não têm de comprar tempo na TV nem concorrer nas primárias dos partidos.

O estudo não considera as doações para a direção dos partidos ou para os comitês financeiros nacionais (que bancam a disputa presidencial), o que elevaria ainda mais os valores.

- O ainda alto nível de pessoal do governo Lula que permanece no governo Dilma sugere que a dinâmica política será similar. E o fato de que as empreiteiras contribuíram pesadamente ao PT em 2010 mostra que elas aguardam algum tipo de retorno - diz Boas.

Em 2010, as quatro maiores empreiteiras do país - Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Odebrecht e Camargo Corrêa - doaram R$38,48 milhões para a Direção Nacional e o Comitê Financeiro Nacional do PT. Para a Direção Nacional do PMDB, foram R$26,9 milhões, num total de R$65,38 milhões.

Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, não quis comentar o estudo, mas defendeu as doações, afirmando serem parte da democracia. A Odebrecht diz que as doações são feitas dentro da lei e do espírito democrático. Camargo e Queiroz Galvão não responderam.