Título: Dilma lança seu programa mais estratégico
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Fonte: O Globo, 13/05/2011, Opinião, p. 6

No pacote de cortes de R$50 bilhões apresentado pelo governo, havia pelo menos um item inusitado, com a previsão de grande economia por meio de auditorias na folha de pagamentos de servidores. Sem entrar em maiores considerações, é razoável concluir que a desorganização chegou a tal ponto na administração pública que o Estado sequer sabe ao certo o quanto paga e a quem paga. Autoridade de primeiro escalão admitiu, inclusive, que aumentos de salários são concedidos, nas incontáveis ramificações da máquina burocrática, sem qualquer controle centralizado.

Este é o cenário no qual a presidente Dilma Rousseff institui, como anunciara no início do governo, a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade. Dela participam empresários e executivos de sucesso - Jorge Gerdau, de forte grupo siderúrgico; Abílio Diniz, do Pão de Açúcar; Antônio Maciel Neto, da Suzano Papel e Celulose, tendo recuperado a Ford no Brasil; e Henri Phillipe Reichstul, presidente da Petrobras na Era FH, quando executou importante programa gerencial na empresa. Do lado do governo, ministros poderosos: Antonio Palocci (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Míriam Belchior (Planejamento) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), muito próximo à presidente.

À primeira vista, não faltará sustentação política, para dotar o Brasil de um "Estado meritocrático e profissional", conforme disse a presidente na solenidade de criação do organismo, quarta-feira. Chegam a ser palavras revolucionárias.

Além da seriedade da iniciativa, medida pelo peso dos nomes que aceitaram o convite de Dilma, a indicação de Reichstul sinaliza uma postura saudável do governo, por sobre rixas partidárias e picuinhas ideológicas. Escolhido como alvo pelo PT em campanhas eleitorais, por ter proposto um novo nome para a Petrobras, mais internacional, Reichstul é nomeado para a Câmara como uma demonstração de entendimento de que modernizar o Estado é missão estratégica, grave. E que nesta tarefa precisam estar as melhores cabeças, independentemente de partidos e ideologias.

Começa bem, mas não será fácil. Depois de oito anos de governo Lula, em que não houve qualquer preocupação com "meritocracia" e "profissionalismo", tem-se uma máquina gigantesca, ineficiente, sem controle, cara, insaciável - parte da elevadíssima carga tributária de 35% do PIB serve para alimentá-la. Ministra nestes oito anos, a presidente Dilma sabe muito bem por que idealizou a Câmara, instrumento vital para ajudá-la a cumprir a promessa do slogan "fazer mais com menos", lançado pela ministra Belchior na primeira entrevista depois da posse.

O Executivo se lança numa empreitada na qual já colhem dividendos governos estaduais - Rio de Janeiro, Minas e São Paulo, por exemplo - e muitos países. Desde a década de 80, Nova Zelândia e Austrália adotam ferramentas de gestão privada - metas, remuneração por alcance de objetivos, etc. - com grande êxito. O mesmo ocorre no Chile. Não há mesmo outro caminho para o Brasil deixar de gastar muito e mal.

Se conseguir êxito, Dilma marcará seu governo com um avanço histórico. Porém, precisa estar consciente de que, para isso, se chocará com castas e donatários de capitanias que existem no serviço público, muitos representados no seu partido, o PT, e em outras legendas aliadas. Terá de ser firme.